DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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sexta-feira, 25 de março de 2011

Governo procura cidades para depositar lixo atômico


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O governo brasileiro vai oferecer dinheiro (royalties) a municípios que toparem receber o lixo atômico produzido nas usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ).

Em fase de desenvolvimento, o projeto prevê o armazenamento dos resíduos nucleares em cápsulas de inox revestidas de concreto.

Prevê-se que esses depósitos de rejeitos tóxicos terão “prazo de validade” de 500 anos.

Deve-se a informação ao presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva. Ele participou, nesta quarta (23), de audiência pública no Senado.

A sessão reuniu senadores de três comissões: Infraestrutura, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia.

Convocada nas pegadas do acidente nuclear de Fukushima, no Japão, a audiência teve o propósito de checar a segurança das usinas nucleares brasileiras.

Vieram à luz inconsistências e problemas dignos de nota. O armazenamento dos resíduos tóxicos é um dos dilemas.

Othon Luiz contou aos senadores que a Eletrobras constrói, no momento, uma célula-piloto, para exibir aos prefeitos dos municípios.

O trabalho é desenvolvido sob supervisão da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear).

O presidente da Eletronuclear disse estar ciente da dificuldade que terá para convencer municípios a se converterem em depósitos de lixo nuclear.

Será preciso oferecer, disse ele, além de royalties, garantias de segurança que convençam a população das cidades e a comunidade científica.

O lixo nuclear recebe três tipos de classificação: alto risco, médio risco e baixo risco. Esse último recebe tratamento análogo ao dispensado ao lixo hospitalar.

Ficou claro na audiência do Senado que o acidente do Japão não provocará alterações no programa nuclear brasileiro. Ao contrário, pretende-se pôr em funcionamento Angra 3.

Vão abaixo alguns dos problemas expostos na audiência pública:

1. Plano de evacuação: Othon Luiz informou que se encontra em andamento a construção de embarcadouros e helipontos na região de Angra dos Reis.

Serão usados em megaoperações para retirar, por via marítima, as pessoas das áreas próximas às usinas em caso de acidentes nucleares.

Pergunta-se: isso já não deveria estar pronto desde o início da operação das usinas de Angra?

2. Treinamento da população: De acordo com o presidente da Eletronuclear, há um plano de treinamento anual dos moradores de Angra.

A população é convidada a participar de exercícios de simulação de acidentes. O problema é que pouca gente atende ao convite.

Laércio Vinhas, diretor da Cnen, disse: “não mais do que 1%” das 3.700 pessoas que moram num raio de 5 km das usinas de Angra 1 e 2 participam dos exercícios.

3. Perímetro de segurança: os professores Luiz Pinguelli Rosa e Aquilino Senra Martinez, da Universidade Federal do Rio, iluminaram outro problema.

Disseram aos senadores que a área de exclusão para o caso de um acidente em Angra é de 5 km ao redor das usinas.

“É preciso contar com um azar maior”, ironizou Pinguelli. Esses padrões "certamente vão ser rediscutidos, não só no Brasil, mas mundialmente", ecoou Aquilino.

Antes de Fukushima, os padrões aceitos fixavam a área de exclusão em 5 km. Com a precaução de recomendar às pessoas que não saim de casa num raio de 15 km.

No Japão, o governo viu-se compelido a evacuar 140 mil pessoas num raio de até 30 km em volta da usina.

4. Licença de funcionamento: em resposta a questionamento do senador Lindberg Farias (PT-RJ), Laércio Vinhas, o diretor da Cnen, reconheceu:

A usina nuclear de Angra 2 opera até hoje sem uma licença definitiva da Cnen, chamada tecnicamente de AOP (Autorização de Operação Permanente).

Othon Luiz, o mandachuva da Eletronuclear, explicou que Angra 2 funciona com uma licença inicial, que prevê requisitos que nada têm a ver com a operação da usina.

Laércio e Othon atribuíram a ausência de licença definitiva a entraves judiciais provocados pelo Ministério Público. Alegam que, a despeito disso, Angra 2 segue todos os requisitos de segurança.

5. Segurança dos reatores: Othon Luiz disse que o acidente japonês deixou uma lição óbvia: as usinas nucleares tem de dispor de fonte alternativa de energia.

Um sistema que possa garantir o resfriamento dos reatores em caso de interrupção do fornecimento de energia.

Nessa matéria, disse Othon Luiz, o Brasil "está bem na foto". Como assim? Antes mesmo do acidente no Japão, a Eletronuclear encomendara um estudo.

Prevê a instalação de uma pequena central hidrelétrica exclusiva para as usinas de Angra. Beleza. E se houver um acidente amanhã?

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