DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

‘Causo’ da glicerina em debate da Globo irrita Collor

Em menos de um minuto, o produtor que por décadas atuou como manda-chuvas da Rede Globo jogou por água o esforço de mais de 22 anos da emissora para minimizar o apoio (para muitos descarado) para a eleição de Fernando Collor de Mello como presidente em 1989.

Em entrevista à GloboNews, canal pago da emissora, José Bonifácio Sobrinho admitiu que, durante os debates da campanha presidencial transmitidos pela Globo, tentou ajudar o candidato alagoano nos famosos embates contra Luiz Inácio Lula da Silva.


O ex-executivo da Globo, Boni, durante entrevista para a GloboNews. Foto: Reprodução

A declaração provocou reação do ex-presidente e hoje senador – que, segundo, Boni mandou a assessoria procurar os executivos da Globo para ajuda-lo na ocasião.

“O Miguel Pires Gonçalves (então superintendente executivo da Rede Globo), pediu que eu desse alguns palpites, e achei que a briga com o Lula estava desigual porque o Lula era o povo, e o Collor era a autoridade. Então conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com glicerinazinha, e colocamos pastas que estavam ali com supostas denúncias contra o Lula, mas as pastas estavam vazias, com papéis em branco”, relatou Boni na entrevista.

“Foi um jeito de melhorar a postura do Collor junto ao telespectador para ficar em pé de igualdade com a popularidade do Lula”, admitiu o ex-executivo. “O conteúdo era do Collor mesmo. A parte formal nós é que fizemos. Me lembrei do Jânio (Quadros), e só não botei uma caspazinha no Collor porque ele não aceitou”.

Ao reagir às declarações, em declarações publicadas na Folha de S.Paulo, Collor acabou implicando ainda mais a emissora. Disse que jamais pediu para alguém falar com o Boni porque, segundo ele, seu contato “era direto com o doutor Roberto (Martinho, fundador da emissora)”.

O ex-presidente, que se saiu vitorioso na campanha, também negou que tenha tirado as gravatas no debate. Ele disse também que o ex-executivo de “uma viajada na maionese” ao dizer que usou glicerina para simular suor e que as pastas citadas estacam “cheias de papéis, números da economia, que sequer utilizei”.

Ao se manifestar sobre a polêmica, o diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, disse à Folha que “a afirmação de Boni só pode surpreender a quem não acompanha de perto a história da Globo”.

Na entrevista, o executivo reafirmou uma declaração anterior, segundo a qual o ex-presidente Lula dá de dez a zero no Chacrinha como comunicador e justificou: “O Chacrinha tinha comunicação espontânea, mas uma técnica profissional. E o Lula não tem essa técnica, é ainda mais natural. O Chacrinha conseguiu audiência de 30 milhões de pessoas, e o Lula conseguiu a audiência do Brasil inteiro”.

Boni, que lança agora o “O Livro do Boni” (Casa da Palavra), em que conta sua trajetória, comentou ainda o período de acirramento da ditadura militar, época em que o conteúdo da emissora era alvo de censura. 

Mais de 40 anos após o episódio, ele disse acreditar que agentes da Operação Bandeirantes, criada para combater movimentos de esquerda durante o regime, estava por trás dos três incêndios ocorridos nas tevês Globo, Bandeirantes e Record num intervalo de cinco dias em junho de 1969, numa suposta tentativa de colocar os meios de comunicação contra os militantes de esquerda no Brasil.

Nem era preciso, de acordo com o executivo, já que as emissoras estavam lá justamente para manipular informações sobre esses grupos. “Todos nós, das emissoras, nos armamos contra o pessoal de esquerda, num primeiro momento. Fizemos textos para colocar no ar (dizendo): ‘quem destrói o que é do povo, é contra o povo’. Imaginávamos que haveria um ataque terrorista de esquerda.”

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