DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Senado empossa Conselho de Ética feito de escárnio

Angeli

Em mais uma demonstração de sua vocação suicida, o Senado dará posse, nesta quarta (27) a um Conselho de Ética autodesmoralizado.

Formou-se um colegiado feito de escárnio, apinhado de réus, investigados e suspeitos. Mas não se deve dizer isso em voz alta.

Quanto mais criticado, mais o Senado revela seus impulsos autodestrutivos. Melhor chiar baixinho, para evitar que a Casa ponha fogo às vestes.

Cabe ao Conselho de Ética advertir, censurar, suspender ou recomendar a perda do mandato dos senadores que quebrarem o decoro.

Se decidisse investigar o próprio umbigo, o “novo” Conselho teria matéria-prima demais para o curto período de quatro anos de uma legislatura.

Maior partido do Senado, o PMDB enviou ao Conselho senadores que são precedidos pela má fama. Entre eles Renan Calheiros, Romero Jucá e Lobão Filho, o Lobinho.

Renan é zombaria que desafia a velha tirada de Churchill sobre a democracia ser o pior regime imaginável com exceção de todos os outros.

No caso de Renan, já ficara entendido, desde 2007, que o Senado dá preferência a todas as alternativas piores.

Acusado de receber dinheiro de um diretor de empreiteira para sustentar o filho que tivera com uma ex-amante, Renan defendeu-se.

Virou, então, suspeito de simular negócios com gado para lavar dinheiro. E que usara laranjas para comprar rádios e um jornal.

Renan renunciou à presidência do Senado. Mas livrou-se da cassação. Uma, duas vezes. Agora, é Senhor da ética.

Jucá, líder do governo desde o tempo das Carevelas, carrega nas costas três inquéritos. Correm no STF, em segredo.

Sob Lula, foi ministro da Previdência. Pendurado nas manchetes em posição vexatória, teve de renunciar à pasta em 2005.

A notícia mais branda apresentava Jucá como titular de empréstimos no Banco da Banco da Amazônia que tinham como garantia fazendas fantasmas.

Lobinho, suplente do ministro Lobão (Minas e Energia), responde a inquérito no STF por ter usado uma empregada doméstica como laranja.

Para quê? Segundo a denúncia do Ministério Público, para fugir de dívidas de um empréstimo e do pagamento de impostos.

São três os crimes sob investigação: sonegação tributária, falsidade ideológica e formação de quadrilha. No Conselho, Lobinho se ocupará da ética.

Como suplente do Conselho, o PMDB indicou Valdir Raupp. É réu em duas ações penais no Supremo.

Numa, responde por gestão fraudulenta de instituição financeira. Noutra, crime contra a administração pública.

Acertou-se nesta terça (26), que o presidente do Conselho de Ética também será do PMDB: o maranhense João Alberto.

É famoso não pelos pendores éticos, mas pela fidelidade canina que devota a José Sarney, o tetrapresidente do Senado.

O mesmo Sarney que, acossado por denúncias, celebrou o arquivamento de uma dezena de representações no Conselho de Ética da legislatura passada.

Em voz baixa: chama-se Gim Argello o representante do PTB no “novo” conselho. Sussurros: coleciona 38 processos por crimes eleitorais.

Murmúrios: responde a inquérito no Supremo por corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação de tributos e apropriação indébita.

Cicios: relator do Orçamento, Gim teve de renunciar ao posto depois que se descobriu que destinara verbas do Turismo a entidades fantasmas.

Pelo DEM, foi ao conselho Jayme Campos. Responde a inquérito nascido do escândalo das sanguessugas. Aquele em que se fraudavam licitações de ambulâncias.

Descoberto em 2008, o malfeito teria ocorrido em 2000 e 2001, na cidade de Várzea Grande (MT). Jayme era o prefeito. No STF, nega o malfeito. No Senado, virou juiz.

Esse texto foi escrito em voz baixa porque, a essa altura, é inútil tentar impedir que o Senado se mate. Não vale a pena se meter na vida –ou na morte— da Casa.

Se nem o pedaço “bom” do Senado se anima a levantar a voz, por que o repórter deveria fazê-lo?

O silêncio que se ouve nos corredores e no plenário do Senado fala alto. Grita que os 81 senadores decidiram estimular a crença de que “são todos iguais”.

Sabe-se que o DNA desautoriza a igualdade absoluta. Mas a ausência de protestos vocifera: “Somos todos farinha do mesmo saco”.

Só o Senado poderia livrar o Senado do suicídio. E não se deve esperar tanto de uma instituição que já deu tantas provas de que a autocrítica não é o seu ponto forte.

Portanto, pisssssssssssssss..., bem baixinho: se o eleitor não se importa e eles se divertem, que siga a roleta rossa!



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