DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ENTREVISTA - HUMBERTO COSTA




"PSB não abriu o diálogo. E, aí, foi cada um por si"

Ana Lúcia Andrade e Bruna Serra

Principal líder do PT em Pernambuco, o senador Humberto Costa critica a falta de articulação política na Frente Popular, faz uma análise da crise PT-PSB e responsabiliza o partido do governador por não ter catalisado uma discussão com as demais legendas. "Está claro que existe uma preocupação com outra coisa que não é 2012", alertou. Sobre o Recife, diz que a permanência de João Paulo no PT o coloca no centro do debate de 2012.

JORNAL DO COMMERCIO - O que aconteceu na Frente Popular? Foi algo isolado, de Petrolina, ou o anúncio de uma desarrumação dessa base que ficou grande demais?

HUMBERTO COSTA - A avaliação que faço é de que tudo o que aconteceu até agora é resultado de um problema coletivo, de uma falta de articulação política. Nós do PT assumimos a nossa parte nisso, muito embora, por mais de uma vez, tanto o presidente estadual do PT (Pedro Eugênio), quanto eu, quanto outras pessoas, procuramos pelo menos, no caso do PSB, estabelecer conversas bilaterais. Mas assumimos a nossa parte e responsabilidade. Agora, não houve articulação na Frente Popular para que pudéssemos estar discutindo desde o começo do ano o que fazer em cada município, qual é importante para o partido tal, ou seja, fazer um debate onde os interesses pudessem ser partidariamente discutidos. Foi cada um por si para lutar pelo que considera melhor para si.

JC - Caberia a alguém ter tomado a iniciativa?

HUMBERTO - O PSB, como partido majoritário, hegemônico da Frente Popular, poderia ter sido o catalizador dessa discussão. Lógico que isso não é um assunto para o governador, mas para os partidos, em especial o PSB que é majoritário. Poderíamos ter discutido como proceder de forma a não gerar fraturas na Frente. Tudo isso está acontecendo por falta de diálogo. E essa é apenas uma etapa, a das filiações, as definições de candidaturas vão acontecer do fim do ano para frente. Se não criarmos esse fórum para debater as candidaturas em cada município, quando chegar lá na frente teremos o mesmo problema. É lógico que não teremos um consenso geral porque os interesses são diversos. Há municípios que têm quatro grupos que apoiam a Frente Popular. Em alguns não vai ter como conciliar os interesses, mas onde for possível estabelecer a conciliação, melhor. O PT vai publicamente, passado o 7 de outubro, fazer um chamamento ao PTB, ao PDT, ao PSB, ao PCdoB para que possamos discutir 2012 de uma forma articulada.

JC - Como funcionaria o fórum?

HUMBERTO - Uma vez por mês os partidos aliados devem discutir onde é que está a grande a confusão. Onde tem jeito (entendimento) e onde não tem. É isso que tem que fazer. Outra coisa: quem é que decide o que é prioritário para cada partido? Disseram essa semana que Caruaru é importante para o PDT, para o PCdoB é Olinda, para o PT, Recife, para o PSB, Petrolina. E o PTB? E Santa Cruz do Capibaribe? Essa é a cidade mais importante para o PTB, porque não se respeita também? Tem sido feito lá um acordo do PSDB com o PSB contra o PTB. Por que o PTB também não pode dizer: "Isso aqui deixa para mim." Quem é que decide? Os partidos têm que fazer essa discussão e não deixar escapar a unidade na Frente.

JC - Na corrida do cada um por si, quem cometeu mais equívoco?

HUMBERTO - Houve vários equívocos. É um erro pensar que os partidos têm a mesma maneira de se organizar politicamente. O PT, por exemplo, não tem dono e algumas colocações fulanizaram o que aconteceu aqui ou ali. Está muito claro que houve uma preocupação com outro momento que não é 2012. As pessoas estão preocupadas com 2014, acham que fulano é candidato, que sicrano é candidato, e vai pra cima de fulano para responsabilizá-lo, para dizer que causou isso e aquilo. Não sou dono do PT, não mando no PT. Na discussão sobre Olinda, que todos sabem da minha posição, se a maioria do partido decidir que vai ter uma candidatura, está decidido. Não se pode é querer colocar em cima de ninguém uma responsabilidade a não ser que o objetivo seja o de criar fantasmas dentro da Frente Popular. Há lugares onde os problemas não começaram ontem e nem foi o PT que criou.

JC - Por exemplo?

HUMBERTO - Petrolina. Um problema que se arrasta desde 2004 quando o PSB lançou a candidatura de Gonzaga (Patriota) e o PT apoiou. Perdemos na última semana da eleição para o candidato do PPS que era Fernando Bezerra. Em 2008, o PT queria apoiar a candidatura de Odacy Amorim (deputado estadual), que era o prefeito com Fernando na vice. O PSB local fez uma convenção e o prefeito perdeu. Nós do PT queríamos a candidatura de Odacy, mas apoiamos o candidato que o PSB indicou que foi o Gonzaga Patriota. Nem participamos da chapa, apoiamos, perdemos a eleição e essa ferida não foi sanada. Quer dizer, foi o PSB que não resolveu o seu problema interno. Odacy saiu do PSB não por convite do PT. Eles é que não conseguiram se resolver lá. Agora, se uma pessoa sai do partido, diz que quer vir para o PT, tem o perfil de alguém para ser do PT, a gente diz que sua vinda não está condicionada à candidatura, nem a controle de diretório e ele vem, onde é que está a responsabilidade do PT? Além do mais, é importante dizer que não dá para comparar com a questão de Recife, de Olinda, de Caruaru. Nesses lugares, a Frente Popular é governo. Em Petrolina o governo é o PMDB. Quem sabe qual é a melhor alternativa para derrotar o governo do PMDB? Porque que necessariamente tem que ser A, B, C ou D? São situações diferentes. Por exemplo, em Araçoiaba, nós tínhamos um candidato com amplas chances de ganhar a eleição, Antônio Maria Rita, que foi para o PSB. Vamos responsabilizar o PSB? Não! Foi uma contingência de ordem local. Quando alguém do PT troca seu domicílio eleitoral gera-se um verdadeiro escândalo. Ninguém vai impor no Cabo uma candidatura que não seja debatida com Lula Cabral (atual prefeito), nem em Ipojuca sem debater com Pedro Serafim (atual prefeito). Queremos a discussão. No entanto, o deputado Aloísio Lessa (PSB) vai para Goiana e não há nenhum questionamento em relação a isso. E não acho que deve haver porque o nome dele será colocado em discussão. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. E essas coisas acontecem não porque há gente pensando em 2014.

JC - Foi isso que gerou essa grita no PSB a ponto de o partido colocar em xeque a aliança no Recife?

HUMBERTO - Não sei. O fato que há é que, os movimentos de parte a parte, aconteceram. Em Recife o PSB está saindo de dois para seis vereadores, inclusive com um do PT. Normal. Não estou reclamando. Paulo Rubem, deputado federal do PDT, trocou seu domicílio eleitoral para o Recife. Suponho que o PDT, no momento certo, vai dizer que é Paulo Rubem ou vamos ter que discutir. O que houve foi uma leitura equivocada dos movimentos que aconteceram, ao invés de obedecerem a uma lógica municipal, estão obedecendo a lógica de 2014.

JC - Isso já é um sinal da dificuldade de manter todos juntos em 2014?

HUMBERTO - O que vai acontecer em 2014 depende de muita coisa. Do resultado da eleição municipal, do sucesso dos governos Dilma e Eduardo, do que Lula vai fazer. Como é que se antecipa uma discussão como essa agora? E mais: o pobre do PT tem oito prefeituras e se faz um escarcéu desses porque o PT filiou A, B ou C. Se o PT sair de 8 para 10, para 15 ou para 20, é isso que vai definir se o PT terá candidato lá na frente? Não faz sentido.

JC - Os aliados alegam que o PT perdeu o tempo de crescer e quer agora querer crescer em cima do PSB.

HUMBERTO - Isso não existe. O que impediu o PT de crescer não é coisa de Lula ter sido governo ou não. Temos que considerar que o PSB ganhou a eleição em 2006 e cresceu em cima da realidade local. Para crescer, o PT teve de disputar espaço com a oposição e com o PTB, PDT, PCdoB e o PSB. Mantivemos nosso maior patrimônio político que é a prefeitura do Recife. Elegemos um senador, mantivemos as bancadas federal e estadual e vamos crescer nessa eleição municipal. Outra coisa: nesse processo de crescimento, o PT tem como grande referência sua lealdade a um projeto. Não ficamos chafurdando na Frente, puxando o tapete dos outros. Pode existir um partido tão leal à Frente Popular e ao governo Eduardo quanto o PT, mais, eu quero que me mostrem. Não podemos aceitar esse tipo de colocação. Colocaram no PT a pecha de partido que quer fazer tudo sozinho, de que não faz coligação. O PT é quem mais fez aliança. Fomos inteiramente fiéis esse tempo todo.

JC - O PTB discretamente abre um debate interno de candidatura própria no Recife. Pode avançar? Resolvido o problema da permanência de João Paulo no PT não era o caso de se trabalhar a unidade em torno do prefeito João da Costa?

HUMBERTO - O movimento pela permanência de João Paulo no PT resolve um dos principais problemas do PT. Porque a saída de João Paulo certamente levaria a uma disputa muito difícil, muito complicada. Foi um esforço coletivo: do ex-presidente Lula, da presidenta Dilma, do presidente Rui Falcão, dos deputados federais do PT, de Pedro Eugênio, meu e do governador Eduardo Campos. Isso é uma parte da questão. A outra é a construção da unidade para 2012. Em dezembro, o PTB saiu do governo (PCR) e se manteve numa posição de independência. Certamente lá na frente, o PT vai procurar não só o PTB como outros partidos para a construção da unidade. Será esse o caminho que o PT junto com o governador, Dilma e Lula vai trabalhar. Mas o Recife deixou de ser um problema do Recife só. O movimento para que João Paulo ficasse no PT extrapolou uma discussão meramente local, foi uma questão nacional. Muitos atores agora serão ouvidos.

JC - A permanência de João Paulo não sacramenta a candidatura de João da Costa?

HUMBERTO - Se a prefeitura realmente continuar melhorando, sem dúvida ele será o nome mais provável do partido. Agora, com certeza João Paulo passa a ter, depois desse episódio, um papel muito relevante no processo eleitoral. Não faz sentindo todo o esforço para manter João Paulo no partido, a principal liderança popular e eleitoral do Recife, e não trazê-lo à mesa na hora de discutir 2012.

JC - Quando o PT não assume de imediato João da Costa não deixa o quadro em aberto?

HUMBERTO - Não tem nada disso. Não posso falar o que é que João Paulo ouviu nas conversas que não participei. Mas não sei se ele assumiu compromissos de apoiar ou não apoiar quem quer que seja. Vamos trabalhar para que o candidato tenha o apoio de todos. Inclusive de João Paulo, se ele não for o candidato. Se for João Paulo que ele tenha o apoio do prefeito.

JC - O que exatamente pesou para João Paulo permanecer no PT?

HUMBERTO - João Paulo não é um político qualquer. É um político que tem uma militância que veio dos movimentos sociais, militou em organização clandestina, foi uma das pessoas que entrou no PT no seu início. Tem uma ideologia e uma concepção que é petista. É muito difícil para quem tem essa percepção, essa visão ideológica, que tem um projeto que extrapola eleição, conseguir resolver um conflito de saída de partido. Acho que foram os compromissos político e ideológico dele, o vínculo com o PT. Depois, João Paulo tinha a leitura de que o PT não valorizava o patrimônio político dele. Acho que ficou muito claro para ele que o PT atribui um grande valor a ele e ao seu patrimônio político. Acho que ele entendeu que a política é uma gangorra, uma hora a gente acerta outra hora a gente erra. Tem momentos que a gente está na dificuldade, no outro se supera.

JC - Como será a participação de João Paulo nas eleições de 2012?

HUMBERTO - Espero que seja plena. Vamos trabalhar para que o candidato que saia seja o de todos. Mas vamos ter um universo maior de opiniões para se definir. O que é que eu estou querendo dizer claramente? João Paulo agora fora do partido seria candidato do PV? Com esse cenário, não posso dizer de antemão que o PT ganharia a eleição. Então a permanência dele é um divisor de águas. E se ele é importante a esse ponto, deve ser escutado, levado em consideração. Como é que vamos fazer uma campanha para eleger um prefeito do Recife escondendo João Paulo da televisão, do rádio?

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