Num país como o Brasil, ter Serra como principal líder da oposição é um luxo

1- Atribui-se ao saudoso Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil do governo João Goulart e senador pelo PDT do Rio de Janeiro quando Brizola estava no governo estadual, a seguinte frase sobre Fernando Henrique Cardoso quando ele derrotou Lula em 1994: ''Um país com as desigualdades sociais como o Brasil, ter FHC na presidência da República é um luxo''. 2- Parafraseando o grande sociólogo, que fundou a Universidade Nacional de Brasília e criou as escolas de tempo integral, no Rio de Janeiro, além do Sambódromo, ter José Serra como principal líder da oposição no Brasil é igualmente um luxo. 3- Além de ser um político forjado na luta contra a ditadura militar que se instalou entre nós a partir de abril de 64, Serra é inegavelmente um grande homem público, dos melhores que temos no Brasil. 4- Se ele tivesse ganhado a eleição, iria para o poder com os que o apoiaram: PSDB, PPS, DEM e dissidentes do PMDB, entre os quais o senador Jarbas Vasconcelos. 5- Como não ganhou, vai chefiar a oposição e fazer uma nova tentativa em 2014, segundo deu a entender, ontem, durante um pronunciamento que fez em São Paulo. 6- Além de ter telefonado para Dilma Rousseff a fim de cumprimentá-la pela vitória, desejando-lhe ''boa sorte'', o que é um sinal de boa educação, Serra teve um comportando elegante diante do resultado adverso das urnas. 7- Em vez de buscar culpados pelo insucesso eleitoral, como é praxe em nosso país, ele preferiu agradecer aos 43,6 milhões de brasileiros que lhe confiaram o voto neste segundo turno da eleição presidencial. 8- E no pronunciamento que fez ao Brasil não externou nenhum travo de mágoa, de rancor ou de pequenez política. Aceitou o resultado das urnas como uma contingência natural da disputa política e agora vai se preparar para 2014, uma vez que, segundo ele, a luta da oposição, de verdade, vai começar agora. 9- Se a amostra da oposição que for feita ao governo de Dilma for a que Serra demonstrou ontem, em São Paulo, pautada nas idéias e no confronto de projetos, e não no plano pessoal, estaremos dando um passo adiante para a consolidação da nossa democracia. 10- E deixando para trás aquele tipo de oposição raivosa, rancorosa e inconseqüente que predominou no Senado, até bem pouco, protagonizada por Jarbas Vasconcelos, Heráclito Fortes, Arthur Virgílio, Tasso Jeresseiti e Álvaro Dias, quando se falou até mesmo, vejam só, em ''surrar'' o presidente da República. É isso aí.