DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Corrida eleitoral gerou paranoia contra a mídia. A possível demissão de Franklin Martins e o discurso amistoso de Dilma


Em seu discurso da vitória, Dilma disse quatro vezes que vai respeitar a imprensa. É algo a conferir. Eu pessoalmente só acredito vendo. Em torno do assunto, há dois textos que merecem ser lidos. No primeiro deles, Cláudio Humberto diz que ela vai demitir o ministro da Supressão da Verdade. O outro é um relato amplo da cafajestada de militantes contra os profissionais do jornalismo. Veja abaixo.

Dilma quer Franklin longe

Na coluna de Cláudio Humberto de domingo

Confirmada a vitória de Dilma Rousseff hoje, dirigentes do PT têm algumas certezas. Uma delas é que o ex-jornalista Franklin Martins, ministro da propaganda, não terá no novo governo a mesma influência que desfruta junto ao presidente Lula.

A candidata prefere na área alguém que não esteja em "guerra" contra a imprensa, como Martins, e não tenha arestas; criá-las é a especialidade dele. A obsessão de controlar e intimidar a imprensa fez de Franklin Martins "mãos de tesoura", uma espécie de um símbolo pró-censura. A busca por formas de controlar a mídia levou Franklin Martins a fingir que procurava "modelos" na Europa, mas seu modelo é o venezuelano.

Dilma teme que a idéia fixa de Franklin Martins coloque na sua conta uma guerra que não é dela, sobretudo contra redes de TV. Antecessor de Franklin, Luiz Gushiken sonhava em silenciar jornalistas. Chegou a dizer que liberdade de expressão "não é um valor absoluto".

Delírios anti-imprensa

Por Suzana Singer, ombudsman da Folha de São Paulo

Movida a denúncias e ofensas, a exaustiva corrida eleitoral que termina hoje produziu um efeito colateral grave: uma paranoia crescente contra a imprensa. O ódio figadal que tomou os eleitores estendeu-se aos diversos órgãos de comunicação, identificados com um ou outro lado da disputa.

Firmou-se uma convicção de que não existe jornalismo neutro, objetivo e plural. Toda reportagem teria uma segunda intenção, de favorecer alguém. Não interessa, por exemplo, se houve mesmo tráfico de influência na Casa Civil, mas sim que a mídia mainstream deu destaque ao escândalo para prejudicar a candidata do governo.

Não se trata, infelizmente, de um ceticismo saudável em relação às fontes de informação, mas de uma desconfiança generalizada e estéril. Na guerra de versões sobre a agressão a José Serra no centro do Rio, há 11 dias, um leitor escreveu duvidando até que uma repórter da Rede Globo tenha sido ferida ("Por que não mostram a jornalista que levou um talho na cabeça?", perguntou).

"Vocês acham que nós somos imbecis" foi uma frase que se repetiu muitas vezes nas 1.436 mensagens sobre política enviadas ao ombudsman nos últimos três meses.

São leitores convencidos de que a Folha, embora não assuma, "tucanou". Ficam irritadíssimos com qualquer notícia negativa ao governo e estão descontentes mesmo quando o jornal dá um furo como o da licitação possivelmente dirigida do metrô ("Por que não colocaram o nome do Serra no título?").

Simpatizantes do PSDB reclamam menos, mas são igualmente agressivos. "Vocês querem o dinheiro do governo federal? Vão ter que dividir com o SBT, Record, Band, iG, "Carta Capital", "IstoÉ", entre outros. É o mensalão da mídia", escreveu um leitor do Espírito Santo.

No clima de Fla-Flu que se instaurou no país, cada um enxerga através das lentes do seu "time". A capa de sexta-feira da Folha, com a manchete sobre o papa condenando o aborto e a foto de Serra beijando uma santa, provocou comentários opostos, mas todos enxergando manipulação. "Lamentável. Como um jornal que se diz imparcial e crítico faz uma capa tão tucana?", escreveu um leitor.

Já outro assinante disse: "O responsável pela Primeira Página está trabalhando pela Dilma. Escolheu uma foto em que Serra beija uma santa com os olhos abertos voltados para outra direção. Fica clara a intenção demagógica de fazer média com os católicos".

É verdade que não faltam motivos para críticas. Até o primeiro turno das eleições, a Folha passou por momentos de forte desequilíbrio, mas acertou o prumo e, na reta final, trouxe reportagens importantes que sinalizaram equidistância das candidaturas.

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