DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Entrevista da Semana na Revista Isto é

Os caminhos da Fiat

Com investimento recorde e a maior fábrica de automóveis do mundo, a subsidiária da montadora italiana, líder do mercado brasileiro de veículos, se torna a Empresa do Ano de 2011

Por Hugo CILO, de Betim (MG), e Rafael FREIRE
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Confira entrevista com o editor de Negócios da DINHEIRO, Ralphe Manzoni Jr.

O presidente da Fiat do Brasil, Cledorvino Belini, encurtou seu almoço para menos de 15 minutos no dia 29 de julho. Naquela sexta-feira, ele também adiou uma importante reunião com executivos da matriz italiana, em Betim (MG), onde está localizada a fábrica da montadora italiana, numa decisão que pode ser considerada incomum para quem o conhece. Afinal, Belini é um executivo gentil e pontual, que gosta de cumprir religiosamente seus compromissos. Mas aquela não era uma situação normal. Minutos antes, por celular, ele havia sido convocado às pressas, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para ir a Brasília participar da discussão dos últimos detalhes do Plano Brasil Maior, o pacote de incentivos e de desonerações para estimular a competitividade da indústria brasileira – que seria anunciado quatro dias depois, em 2 de agosto, pelo governo. “Não vou adiar a nossa entrevista, mas podemos conversar a caminho do aeroporto?”, perguntou Belini, ao repórter da DINHEIRO, visivelmente empolgado. “O jato está me esperando com o motor ligado.” 
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No trajeto de 26 minutos entre a fábrica de Betim e o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, Belini falou sobre como pretende levar para Brasília suas bem-sucedidas experiências na Fiat para ajudar a indústria automobilística a ganhar competitividade, diante da valorização do real e do aumento da concorrência com os veículos importados. “A situação é muito boa, mas há pontos que precisam ser melhorados, principalmente em relação à questão cambial”, afirmou o executivo, que também preside a Anfavea, associação das montadoras (leia entrevista no final da matéria). Afinal, ao completar 35 anos de presença no Brasil, a montadora italiana, que faturou R$ 20,7 bilhões e lucrou R$ 1,6 bilhão em 2010, coleciona histórias de sucesso e tem muito a ensinar.
 
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Cledorvino Belini: "Não queremos apenas ser líderes. Precisamos também ser criadores e exportadores de tecnologia"
 
No ano passado, a Fiat completou seu nono ano como líder do mercado automobilístico brasileiro, com uma participação de 22,8%. Mais: a fábrica de Betim se tornou, em 2010, a maior do mundo em número de veículos produzidos, superando a unidade da Volkswagen em Wolfsburg, na Alemanha. No ano passado, a Fiat fabricou 740 mil automóveis. Há três anos, a filial brasileira também vende mais carros que a matriz italiana – cerca de quatro em cada dez carros da marca comercializados no mundo foram montados no Brasil em 2010. Fato que levou Andrea Fornica, principal executivo da empresa de Turim para o mercado europeu, a dizer, recentemente, que gostaria de clonar a filial brasileira. Por esse e outros fatores, a Fiat foi eleita a Empresa do Ano do ranking de AS MELHORES DA DINHEIRO 2011. “Gostamos de ser líder, mas não é só isso que define os nossos planos para o futuro”, diz Belini. 
 
Tanto é verdade que a montadora italiana mostrou que não pretende ficar sentada sobre as conquistas do passado. Em 2010, a Fiat anunciou o maior investimento de seus 35 anos de história no Brasil. Serão R$ 11 bilhões gastos na ampliação do seu parque industrial. Em Betim, a estimativa é de que sejam aplicados R$ 7 bilhões para aumentar a capacidade da fábrica de 800 mil carros para 950 mil carros por ano. Na terça-feira 9, a Fiat aumentou em mais R$ 1 bilhão seu investimento em uma fábrica em Pernambuco. Localizada em Goiana, a 65 quilômetros de distância do Recife, a unidade originalmente estava prevista para produzir 200 mil carros anualmente, a partir de 2014. Agora, serão 250 mil. O investimento, que era de R$ 3 bilhões, pode chegar a R$ 4 bilhões.
 
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João Ciaco, diretor de marketing: a Fiat faz pesquisas diárias com consumidores e usou antropólogos para desenvolver o novo Uno
 
Essa dinheirama será usada para enfrentar a competição no mercado brasileiro, que se tornou o quarto maior do mundo, no ano passado, com 3,3 milhões de unidades vendidas. Ao todo, são 50 marcas, que oferecem cerca de 800 modelos de carros no Brasil. A chegada de tantos competidores exerceu um efeito colateral sobre as quatro grandes montadoras: a lenta e constante queda de participação de mercado. Esse fenômeno atinge não só a Fiat, mas também a Volkswagen, a GM e a Ford, estabelecidas há várias décadas no Brasil. Mas é a Fiat que, por enquanto, tem se saído melhor nessa disputa com as novatas que desembarcam no País. Até agora, ela é a que tem perdido menos mercado. 
 
De janeiro a julho de 2011, sua participação era de 22,5%, praticamente estável, em relação aos 22,8% de 2010. Suas concorrentes do grupo das quatro grandes, no entanto, viram suas fatias reduzirem-se mais. A Volkswagen, segunda no ranking, observou sua participação passar de 21%, em 2010, para 20,6%, nos sete primeiros meses deste ano. A Ford perdeu 0,6 ponto percentual, caindo de 10,1% para 9,5%. A GM foi a que mais sentiu os efeitos da concorrência de carros vindos de países como Japão, Coreia do Sul e China. Em 2010, ela detinha uma fatia de 19,8% do mercado local. Em 2011, até julho, 18,4%. “Evitar uma perda maior de participação foi um grande feito da Fiat”, diz José Carlos Francis Novis, consultor da Autodeal. “A marca italiana mantém sua liderança de vendas em veículos populares, o segmento mais disputado pelas marcas entrantes, principalmente as chinesas.”
 
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Para conseguir esse feito, a companhia investiu, e muito, para entender o que o brasileiro quer de um carro. “Acredito que o grande mérito da Fiat é saber inovar”, diz Luiz Carlos Augusto, diretor-superintendente da Jato Dynamics, consultoria especializada no setor automotivo. Exemplo disso foi a picape Strada. Quando todos os rivais estavam lançando versões similares com a cabine estendida, a Fiat apostava na cabine dupla. Foi ela também que criou o conceito visual de um carro aventureiro, como o Palio Weekend Adventure. Hoje, esse estilo está presente nos similares de todas as concorrentes da empresa. No ano passado, a companhia deu mostra mais uma vez de sua ousadia. O novo Uno, que chegou às ruas brasileiras em maio de 2010, foi desenvolvido a partir do resultado de pesquisas realizadas por antropólogos, junto aos consumidores.
 
Uma das novidades foram as cores berrantes dos modelos, ao contrário das versões monocromáticas (preto e prata), durante muito tempo consideradas as preferidas dos consumidores locais.“Pela primeira vez, lançamos um modelo ouvindo os anseios das pessoas, não elaborando a partir de um centro de engenharia”, afirma Belini. A estratégia parece estar dando resultado. O modelo de entrada da Fiat foi o seu carro mais vendido em 2010, com 229 mil unidades comercializadas. Em fevereiro deste ano, inclusive, superou as vendas do Volkswagen Gol, campeão de vendas do Brasil (no acumulado de 2011, o veículo da montadora alemã permanece na frente). “A Fiat sempre focou suas operações no segmento de carros de entrada”, afirma Fernando Trujillo, consultor da IHS, especializado no mercado automotivo. 
 
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Ouvir o consumidor, um mantra apregoado por um grande número de empresas, é quase uma obsessão na Fiat. “Nossas pesquisas são diárias”, diz João Ciaco, diretor de publicidade e marketing de relacionamento da Fiat. De acordo com ele, todo mundo define os segmentos a partir da potência do motor e do tamanho do carro. “Classificamos os produtos pautados no desejo dos consumidores”, afirma Ciaco. A Fiat levou esse princípio ao extremo ao criar o carro-conceito Mio, a partir de mais de dez mil ideias e sugestões dos consumidores, enviadas pela internet. O que a Fiat fez, nesse caso, foi usar o poder da multidão para ajudar a desenvolver um produto. Chamada em inglês de crowdsourcing, a prática já existia antes da internet. 
 
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Investimento recorde: a Fiat vai investir R$ 11 bilhões para aumentar a produção no Brasil
 
Mas foi graças à rede e a seus quase dois bilhões de usuários que ela encontrou terreno fértil para se popularizar. “É claro que o Mio é um caso extremo”, afirma Ciaco. “Mas não deixa de evidenciar uma nova ferramenta de marketing, que pode ajudar no desenvolvimento de nossos futuros lançamentos.” O Mio foi apresentado ao consumidor brasileiro em outubro do ano passado, durante o Salão do Automóvel, em São Paulo. Com visual futurista, é um carro urbano, compacto, com convergência de mídias, fácil de estacionar e com emissão zero de poluentes.
 
Dos 22 modelos que a companhia pretende lançar em 2011, não chega, então, a ser uma surpresa que a grande aposta esteja em um carro urbano e fácil de estacionar. Trata-se do subcompacto 500 (que pode ser visto no início desta reportagem, com Belini). O veículo, montado na Polônia, tem sido vendido no mercado brasileiro por mais de R$ 70 mil. A pedido de Belini, ele passará a ser produzido no México para atender principalmente ao mercado brasileiro neste segundo semestre. Com essa manobra, o 500 será vendido por aproximadamente R$ 40 mil no Brasil graças à redução do custo com transporte e à vantagem tributária. É a Fiat abrindo caminhos e desbravando mais um território no Brasil. 
 
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A maior do mundo: em 2010, a fábrica de Betim (MG) foi a que mais produziu automóveis no globo. De lá, saíram 740 mil carros
 

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