DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Mal no começo

Cenário: maior inflação em 68 meses; produção industrial desacelerando, principalmente no Nordeste; problemas nas contas externas; blecautes em vários Estados.

Ações: anúncio do mais profundo corte de gastos federais em oito anos; congelamento de concursos públicos; reajuste de salário mínimo menor do que o esperado; alta dos juros.

Dilma Rousseff está começando seu governo como Lula iniciou seu primeiro mandato: com um freio de arrumação. Que a freada é necessária, poucos discutem. A herança foi politicamente generosa, mas tem conflitos e pendências econômicas inadiáveis.

A presidente parece querer fazer o mal de uma vez só e logo. A fórmula deu certo com o antecessor, e é recomendada há mais de 500 anos por especialistas em marketing político. Inventor da profissão, Nicolau Maquiavel virou adjetivo colocando o conselho no papel.

A aplicação da dica, todavia, requer algum talento. Fernando Collor seguiu o manual ao pé da letra. Arrepiou o esqueleto do florentino ao confiscar, de cara, a conta corrente da população. Mas esqueceu da segunda parte, distribuir bondades a prestação. O resultado é conhecido.

Como há 20 anos, a reação atual dos analistas econômicos oscilou entre a perplexidade e a aprovação escancarada. Não que isso queira dizer muita coisa, mas o boletim do primeiro mês de Dilma na Presidência veio repleto de elogios dos mestres na matéria.

Os cortes também excitaram o faro da oposição. Por um instante, os candidatos a candidato tucano deixaram de trocar bicadas entre si e viraram seus discursos, piadas e entrevistas contra a rival estacionada no Palácio do Planalto.

Aécio Neves saiu do muro ao dizer, resumidamente, que cortes são necessários porque o Brasil não é cor-de-rosa como o PT pintou-o na campanha eleitoral. Mas gaguejou na mineirice e a frase saiu longa demais para virar uma manchete.

José Serra precisou de três tweets para criticar o pronunciamento de Dilma na TV. Ela tentou criar uma "agenda positiva" em meio aos cortes e anunciou um programa de bolsas para o ensino técnico. Serra ironizou, sem sucesso, e depois explicou a piada: "O governo do PT copiou uma ideia nossa. Não esperava que eles dessem o crédito da autoria. Mas é bom saber como funcionam: na campanha, execram, no governo copiam, em geral mal."

Geraldo Alckmin foi mais curto: anunciou salário mínimo de R$ 600 em São Paulo e prometeu contratar 25 mil professores para a rede pública de ensino. Que falta fazem uma caneta e um Diário Oficial, devem ter pensado os ex-governadores Aécio e Serra. E, assim, o menos cotado dos três tucanos faturou melhor a freada de Dilma, por enquanto.

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