DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

GIRO NO MUNDO

Sudão do Sul decide, por esmagadora maioria, emancipar-se do Norte

Comunidade internacional celebrou resultado; separação definitiva das duas regiões está prevista para julho

AFP

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Segundo resultados definitivos divulgados esta segunda-feira, 98,83% dos habitantes do Sudão do Sul optaram, em referendo, por se emancipar do Norte, abrindo o caminho para o surgimento, em julho, de um novo Estado africano, uma vitória festejada tanto pela comunidade internacional, quanto na capital sulista, Juba. Os resultados, exibidos em telões durante cerimônia em Cartum, mostram que dos 3.837.406 de votos validados, apenas 44.888 - ou seja, 1,17% - eram favoráveis à manutenção da unidade com o norte. "O referendo foi transparente e não temos objeções a estes resultados", declarou o presidente da comissão do referendo, Mohamed Ibrahim Khalil.

Este anúncio era uma simples formalidade, visto que segundo os resultados preliminares completos, publicados em 30 de janeiro, 98,83% dos sudaneses do sul votaram pela independência. Em Juba, centenas de sudaneses do sul, reunidos perto do mausoléu de John Garang, líder histórico da rebelião sulista, morto em 2005, deram vazão à sua alegria, quando foram anunciados os resultados. "Somos livres!", gritou um estudante, Simon Puoch, em meio à multidão que agitava bandeiras, enquanto cantava e dançava. "Diziam que não conseguiríamos, que a violência explodiria no Sudão do Sul. Mas agora dançamos para festejar esta vitória pacífica", reforçou.

O referendo era um elemendo chave do acordo de paz que pôs fim, em 2005, a duas décadas de sangrenta guerra civil entre o norte, de maioria muçulmana e árabe, e o sul, majoritariamente cristão e negro. A comunidade internacional aplaudiu a credibilidade da votação, apesar dos desafios logísticos. O presidente americano, Barack Obama, anunciou que os Estados Unidos reconhecerão a "soberania e a independência" do Sudão do Sul em julho próximo e cumprimentou seus habitantes por ter votado a favor da independência no âmbito de um referendo que chamou de "histórico".

"Em nome dos americanos, eu cumprimento os moradores do Sudão do Sul por um referendo coroado de sucesso, no âmbito do qual uma maioria esmagadora de eleitores decidiu pela independência", declarou o presidente em um comunicado. "Portanto, estou honrado em anunciar a intenção dos Estados Unidos de reconhecer formalmente o Sudão do Sul como Estado soberano e independente em julho de 2011", acrescentou Obama. Em entrevista coletiva celebrada mais cedo na Casa Branca, o porta-voz de Obama, Robert Gibbes, já havia saudado a decisão dos sudaneses do sul, estimando que o referendo representou a chegada de "um novo começo na região".

A secretária de Estado americana também expressou sua satisfação com os resultados, instando as duas partes a tomar as medidas necessárias para a aplicação do acordo de paz de 2005. Outra que saudou o referendo, ao qual chamou de "histórico", foi a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, que se comprometeu a buscar uma associação de longo prazo com o novo Estado. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que a votação foi uma "grande conquista" dos sudaneses, segundo seu porta-voz, Martin Nesirky.

O referendo foi celebrado entre 9 e 15 de janeiro, na presença do presidente sudanês, Omar al Bashir, e do presidente da região semi-autônoma do Sudão do Sul, Salva Kiir. Kiir disse que a independência do sul não é "o fim da linha porque não podemos ser inimigos. Devemos construir relações fortes", acrescentou. Segundo os termos do acordo, a separação efetiva está prevista para 9 de julho. As autoridades do norte e do sul dispõem, agora, de menos de seis meses para chegar a um acordo sobre temas delicados, como a delimitação das fonteiras, a divisão dos ganhos petrolíferos e o estatuto da disputada região de Abyei.

Será preciso encontrar, assim, uma fórmula para partilhar a renda obtida com o petróleo, visto que 80% das reservas de petróleo do país, calculadas em mais de 6 bilhões de barris, estão no sul, mas a região depende do oleoduto que atravessa o norte do país para exportar a produção. As duas partes também têm que chegar rapidamente a um acordo sobre o estatuto das centenas de milhares de sulistas que continuam vivendo no norte, assim como dos nortistas instalados no sul, para evitar acelerar as ondas migratórias, já iniciadas.

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