DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Guerra desabafa: "O jogo sujo está só começando"


Em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, para edição desta segunda-feira, o senador Sérgio Guerra, coordenador da campanha do candidato tucano ao Planalto, José Serra, sinaliza que ocorrerá muito mais do que uma guerra santa pela internet nas próximas duas semanas que antecedem a eleição.

“O jogo sujo contra nós mal começou. Na última eleição, eles se deram mal com os aloprados. Desta vez, ainda será pior. Os aloprados estão soltos, muitos deles estão na campanha de Dilma. A internet virou uma batalha campal, mas nós temos uma estrutura para resistir a isso: a vida e a experiência do nosso candidato”, desabafa, para acrescentar: “A história de Dilma, nem ela fala, nem muito menos ninguém sabe. Tempos difíceis pela frente virão. Vamos ter tranquilidade e firmeza”.

Guerra sugere que a notícia de que a mulher de Serra teria cometido aborto tem origem no subterrâneo do PT, insinua que as pesquisas de intenção favorecem a candidata governista, diz não temer uma maior exposição de Lula no guia eleitoral de Dilma e, no campo estadual, diz que não pode ser apontado como um dos responsáveis pela derrota e a baixa votação de Jarbas Vasconcelos. “Eu tive perto de 170 mil votos. Jarbas perdeu por três milhões de votos. Não se pode atribuir a mim, portanto, a eleição que ele perdeu”, arremata. Veja abaixo a entrevista:

Diante da queda de Dilma nas pesquisas, Lula estará mais presente no guia da petista. O PSDB teme o poder de Lula na teve?

O primeiro turno foi todo ancorado em Lula, de tal forma que a candidata não se confirmou. No segundo turno, a orientação do PT era relativizar Lula para confirmar sua candidata. Quando a candidata apareceu agressiva, o objetivo era ela se transformar no centro da sua própria campanha. Sua agressividade estragou tudo. Ela tinha que aparecer indignada e não irritada; vítima ao invés de agressiva. A tentativa de confirmar Dilma no centro da campanha furou.

Se furou, Lula então não pode ser o salvador da lavoura?

Neste momento, aparentemente Lula volta para o centro, porem a informação que nós temos é que há divisão. Vou recuperar o caso belo Horizonte. No primeiro turno, Fernando Pimentel e Aécio centralizaram a campanha de Márcio Lacerda para prefeito de BH. Quase perderam a eleição para um candidato do PMDB secreto e fraco. No segundo turno, os dois saíram do centro e o Márcio centralizou a campanha e ganhou a eleição. A população desejava ter clareza sobre os seus candidatos a prefeito. E Marcio Lacerda ganhou se apresentando como de fato é: no centro da campanha e triunfou. Como de fato é um bom administrador. Neste exato momento, se Lula cobrir a Dilma de novo até a exaustão tem uma grande chance de não dar certo, porque a imagem de Dilma está arranhada.

O que contribuiu mais para arranhar a sua imagem?

O conjunto da obra, os dossiês, a Erenice, a dubiedade na questão religiosa, e o evidente o fato dela não convencer quando se apresenta.

O Brasil não quer a Dilma?

Seguramente, os brasileiros não querem votar na Dilma. Gostariam de recusar o voto nela, mas não dá para subestimar a força deles, inclusive do PT, dos seus aliados e principalmente de Lula.

Se os brasileiros não querem a Dilma, por que ela continua liderando as pesquisas?

Não é certo que ela está liderando as pesquisas. Todos os institutos de pesquisas já se equivocaram no primeiro turno, e contra nós. As nossas pesquisas internas já colocam Serra na frente. E não há tendência de reversão. Não quer dizer que a eleição está ganha, mas que temos muitas chances de vencer. Sobre pesquisas, é recomendável que se crie uma lei para regulamentar o sistema de pesquisas. Nós, do PSDB, vamos criar o nosso próprio instituto com gente técnica e da academia. Pesquisas andam promovendo resultados absurdos e nós temos levantamentos sobre a imensa quantidade de erros graves que elas têm cometido.

Estamos diante de uma campanha acirrada, que tende a descambar para um mar de lama?

O jogo está muito pesado. Eu iria mais além, fora do controle. A internet virou uma batalha campal, mas nós temos uma estrutura para resistir a isso: a vida e a experiência do nosso candidato. A história de Dilma, nem ela fala, nem ninguém sabe. Tempos difíceis pela frente virão. Vamos ter tranquilidade e firmeza. O jogo sujo contra nós mal começou. Na última eleição, eles se deram mal com os aloprados. Desta vez, ainda será pior. Os aloprados estão soltos, muitos deles na campanha de Dilma.

O senhor é a favor de proibir a divulgação de pesquisas seis meses antes da eleição?

Não sou a favor, mas nós devemos regulamentar essa matéria. Ela não pode ficar solta como está agora, porque interfere nas intenções de voto dos candidatos. Lá no Paraná, tínhamos perdido a eleição na véspera e dormimos vitoriosos no dia da eleição. Acho que essa questão de regulamentar interessa a todos, para preservar o conceito das pesquisas.

É correto dizer que estamos assistindo a uma guerra santa na campanha?

Há uma forte discussão religiosa. Nós, do PSDB, não a inventamos. Elas surgiram quando a candidata Dilma falou sobre o aborto de forma imprecisa ou contraditória. A campanha dela alimenta essa discussão na medida em que fala do assunto, promove documentos de adesão e tem uma atitude insincera. Nesta questão de fé, não cabem divagações. Ou se tem fé ou não. Ou se acredita em Deus, ou não. Ninguém pode ter mais ou menos fé ou mais ou menos acreditar em Deus.

Foi invenção do PT o suposto aborto que a mulher de Serra teria cometido?

É invenção, coisa de campanha, de gente que trabalha no subterrâneo. Acusações deste tipo, pessoais, já foram feitas em muitas épocas sobre candidatos e famílias de candidatos. Uma vez Lula foi vítima deste tipo de acusação. No PSDB, nós nunca deixamos de respeitar nem o presidente nem a sua família, inclusive seus filhos. Vamos continuar na mesma forma. A sociedade sabe distinguir a calúnia da verdade. Quando não existe fundamento, é difícil uma acusação ganhar credibilidade e consistência na opinião pública. Na semana passada, dei uma entrevista alertando que armas sujam seriam usadas.

E está provado?

Não tenho elementos para dizer quem as instrumentalizou, mas que foi gente contra nós não há dúvida. O problema é o seguinte: a imagem de Dilma está arranhada e vai ser mais arranhada ainda. No mercado há muitas denúncias contra ela ou gente perto dela. Agora, a tarefa do adversário é fazer o que sempre fizeram nos últimos oito anos: espalhar sujeira para tentar contaminar o adversário e provar que todos são iguais, quando, rigorosamente, não são.

O senhor observa essa tentativa também na matéria da Carta Capital, que envolveu também outros políticos aliados de Serra, além do senhor?

Faz mais de seis meses que circula uma determinada gravação encontrada num ambiente freqüentado pelo ex-governador José Roberto Arruda na qual sou acusado e outras personalidades políticas. Muitos órgãos da Imprensa tiveram conhecimento disso, mas ao investigarem não encontraram fundamento para uma publicação. E não a divulgaram. Agora, uma determinada revista que apoia Dilma fala disso. E uma denúncia babaca, que inclusive não me compromete. Não costumo prestar atenção para o que a Carta Capital publica, porque é uma revista a serviço de um partido.

Entrando nas questões locais, como está a relação do senhor com Jarbas?

Distante. Não sou inimigo dele, como ele também afirmou isso. Eu tive perto de 170 mil votos. Jarbas perdeu por três milhões de votos. Não se pode atribuir a mim, portanto, a eleição que ele perdeu.

Por que então fazer comício em Carpina, onde já ele disse que não vai porque ali o prefeito o traiu?

Ninguém traiu ninguém e sobre esse segundo turno vale uma ponderação: estamos em outra eleição, em outra campanha. No Ceará, por exemplo, Lúcio Alcântara entrou na campanha e o Tasso aprovou. Aqui, não podemos repetir uma campanha que não foi bem sucedida. Temos que fazer outra campanha. O PSDB quase todo vai fazer a campanha de Serra. Isso é uma questão nossa, do nosso partido. Como coordenador nacional da campanha de Serra, fico impedido de entrar em detalhes nessas questões locais. Penso apenas que aqueles que não querem a incorporação de alguns de milhares de votos para Serra não estão ajudando. Nosso partido elegeu dois deputados federais– o primeiro e o terceiro mais votados. Elegeu cinco estaduais. Os outros partidos da oposição apenas três. Nosso partido é, seguramente, o mais forte que não é da base do governo. Não será um comício em Carpina que mudará as coisas. Temos entender que já acabou a eleição para governador. Agora, a eleição é de presidente da República e temos que deixar as nossas divergências de lado para eleger Serra. Nossa campanha aqui terá que ser mais ampla do que foi a de governador. Se não querem Carpina, tudo bem! Se não querem atos em municípios que apoiaram Eduardo não vamos brigar por isso. O nosso adversário é o PT.

Há ruídos nos bastidores em relação à escolha de Bruno Rodrigues para coordenador estadual. Por que o senhor escolheu um deputado não reeleito?

As escolhas de coordenadores se deram numa discussão dos partidos em São Paulo. Pedi a amigos meus que consultassem sobre a escolha de Bruno. Ninguém reclamou e não teriam o que reclamar. Não apenas Bruno foi escolhido. Bruno Araújo também foi chamado por nós para uma coordenação em São Paulo. E está lá ajudando muito.

Mas, quanto ao fato de escolher um coordenador que foi derrotado nas urnas...

E quem não perdeu aqui? Sobraria muito pouca gente. Gente muito boa aqui, como André de Paula, também não ganhou e quero dizer que é um excelente político e que admiro bastante. E que pode ir para qualquer função nesta campanha. Não trabalha na intriga, é um político construtivo e conciliador.

Dizem que o senhor já teria acertado uma composição do PSDB estadual com o Governo Eduardo. Até aonde isso é verdade?

Eduardo ganhou a eleição em Pernambuco de forma convincente. Não foi apenas uma vitória, mas uma vitória por milhões de votos. O PSDB de Pernambuco vai tomar o seu rumo orientado por políticas nacionais. Não poderemos discutir assunto local sem antes tratarmos da posição do PSDB nacional. É claro que não somos inimigos do PSB e já disse isso por várias vezes, antes, agora e todo tempo. Temos alianças feitas na Paraíba, do outro lado em Alagoas. Essa semana, num ato que reuniu centenas de prefeitos do Paraná, com Beto Richa eleito governador, eu representei Serra e o prefeito de Curitiba estava presente, ele do PSB. Em outros Estados do Brasil isso também aconteceu isso. Não conheço ninguém do PSDB que reclame disso nem também no PSB. Esses são os fatos. O futuro vai depender de circunstâncias mais amplas e imprevisíveis.

Em que quadro nacional essa aproximação com Eduardo seria facilitada – com Dilma presidente ou Serra presidente?

Só trabalho com a hipótese de Serra presidente e Eduardo com Dilma. Não dá para responder a esta pergunta.

Num cenário de Serra eleito, como será a relação de Jarbas com o PSDB?

O PSDB gosta de Jarbas e respeita-o. Serra também gosta dele. Jarbas é senador e continuará senador. O partido de Jarbas é o PMDB. São muitas circunstâncias que seriam consideradas a partir de uma eventual vitória nossa, mas o PSDB nacional e Serra têm reconhecimento e agradecimento a Jarbas.

Quanto à boataria de que o senhor seria afastado da coordenação de Serra. Existe algo real ou é obra de intriga dos adversários?

Não há essa hipótese, nunca houve. Tenho cumprido o meu papel e esse reconhecimento é unânime entre aliados e até adversários. Agora, que tem gente aqui que trabalha dia e noite para me atingir não há duvida.

Alguém do DEM?

Não gostaria de nominar, mas com certeza.

E aos que acusam o senhor de desagregador?

O PSDB sai desta eleição com oito governadores eleitos, uma bancada de senadores maior em relação à última bancada que elegeu, uma bancada federal semelhante a que tinha e o PSDB de Pernambuco teve bons resultados nas eleições, sem apoio de governo ou coisa parecida. Quem ajuda nisso não pode ser desagregador. Não estou fazendo comparações. Trabalho no campo irrefutável das constatações, não é conversa, é fato.

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