DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

“Sempre fui patrulhada por extremismos políticos”, afirma a nova presidente do TCE

teresa_duere_foto_marilia_auto

Ao assumir nesta segunda-feira a presidência do Tribunal de Contas, a conselheira Teresa Duere declarou que sempre foi “patrulhada” por sua militância política.
“Da memorável militância no Movimento Cristão Popular ao lado de Dom Hélder Câmara, até a minha última atuação parlamentar (como deputada estadual pelo PFL). Fui rotulada à esquerda e à direita, de acordo com as miopias do momento. Essas vivências me ensinaram a procurar ficar sempre à frente do meu tempo”, disse ela. Abaixo, a íntegra do seu discurso:

1 - Há nove anos assumi as funções de Conselheira do Tribunal de Contas do Estado com a responsabilidade adicional de ser a primeira mulher a tomar assento no Colegiado Superior. Naquela ocasião, julguei que minhas quatro décadas de militância política e profissional haviam atingido o ápice e que aquela honra era o reconhecimento máximo de uma trajetória sempre reta e dedicada à vida pública.
2- Não imaginava sentir emoção semelhante ao iniciar esta nova missão, ainda mais desafiadora e emérita. Ao tomar posse na Presidência desta Casa, tenho consciência do desafio que enfrentarei. A solenidade da cerimônia é compatível com a história e a respeitabilidade do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco. No momento, os necessários ritos formais não ofuscam a amizade fraterna e o companheirismo existentes aqui.
3- O fato de ser a primeira mulher a assumir a Presidência do TCE não tem apenas um valor simbólico. É também a consequência prática da busca pela igualdade em uma sociedade historicamente comandada, em todos os setores, pelos homens. A mulher, tendo percepção mais intuitiva sobre o mundo, pode contribuir para a aplicação mais equilibrada e reveladora das leis. É uma responsabilidade adicional pela singularidade momentânea e pelo pioneirismo do fato. Entretanto, não me assusta, nem é estranho abrir caminhos.
4- Sempre fui patrulhada por extremismos políticos de todos os matizes; da memorável militância no Movimento Cristão Popular ao lado de Dom Helder Câmara, até a minha última atuação parlamentar. Fui rotulada à esquerda e à direita, de acordo com as miopias do momento. Essas vivências me ensinaram a procurar ficar sempre à frente do meu tempo.
5- Não tenho a intenção deliberada de quebrar tabus ou subverter paradigmas. Se isso ocorre em algumas situações, é consequência da ousadia de inovar e da capacidade de renovar-me. São características pessoais permanentes.
6-A essência da democracia como sistema político reside na separação e independência dos poderes fundamentais do Estado, bem como no seu exercício em nome do povo e por meio de instituições fortes e maduras. Mais do que um regime político, ela é  forma de organização da sociedade e de convivência harmônica dos centros de poder e decisão.
7 – Desde o seu surgimento, na antiguidade clássica, o ideal democrático – aspiração dos homens e dos povos em assumir seu destino coletivo e sua responsabilidade política – manifestou-se de muitas maneiras. Como realidade, todavia, só a partir do final do século dezoito, com a independência dos Estados Unidos em 1776 e o triunfo da Revolução Francesa, em 1789, surgiram as modernas democracias.
8- No Brasil constatamos o avanço do sistema e o seu aperfeiçoamento, ainda que com alguns períodos críticos, especialmente o Estado Novo entre 1937 e 1945 e o decorrente do movimento político-militar de 1964. No sistema democrático, a obrigação do Poder Executivo em cuidar da administração do Estado e garantir o cumprimento da lei não prescinde do Poder Legislativo plural e forte que se concretiza na instituição parlamentar.
9- Mas é incompleta, no entanto, se não existir com um Poder Judiciário também forte e atuante. O pleno exercício desse poder é um pilar da democracia pelas suas funções imprescindíveis de árbitro entre o legislativo e o executivo nos conflitos de jurisdição, bem como de intérprete dos dispositivos legais e salvaguarda do cidadão.
10- Os Tribunais são a autoridade judiciária que aplicam a justiça, a lei e as normas em nome do povo. O Tribunal de Contas, como corpo da magistratura intermediária e autônomo face aos Poderes Executivo e Legislativo, tem função fundamental no organismo constitucional, na medida em que suas atribuições de análise, revisão, julgamento e treinamento de gestores públicos são independente daqueles poderes .
11- Isso lhe confere o atributo de promover a boa funcionalidade, a consistência e o equilíbrio entre os entes públicos o que, em última instância, avaliza sua atuação como instrumento de fortalecimento e aprimoramento da democracia.
12- Vivemos, sim, um momento de plenitude democrática. Salve! Mas não podemos nos acomodar com isso. Preocupam-me a busca da unanimidade de pensamento, a manipulação de opiniões, a fraqueza das manifestações de quem pensa diferente e as eventuais tentativas de ingerências indevidas.
13- Preocupam-me as iniciativas que surgem, aqui e acolá, de “regular a imprensa”. Preocupam-me opiniões equivocadas de que a atuação dos órgãos de controle e dos Tribunais de Contas “tolhem o desenvolvimento” e “atrapalham” a ação de governos. Em última análise, essas não são posturas republicanas.
14- Pernambuco nunca se curvou e continua com altivez, dando exemplos para o Brasil. Aqui criamos instrumentos de controle que previnem dano ao erário e que, acolhidos plenamente pelo Executivo, resultam em ações conjuntas para o obtenção da boa aplicação do dinheiro público.
15- Tenho uma visão de política em que arranjos de conveniências devem ser práticas implacavelmente condenadas e abolidas. A ação política e gerencial aceita pelo povo é subordinada à ética e à decência. Nela estão presentes a transparência, o controle da sociedade e o compromisso com a eficiência.
16- O povo clama por ética e honradez. Honra não é palavra inventada para inflamar discurso; não é qualificação adquirida, mas obrigação de qualquer dirigente ou representante público. Defendo a intransigência nos princípios e a tolerância na convivência. Alguns princípios que distinguem o bem do mal antecedem o Direito Romano, onde as bases jurídicas de convivência humana foram sedimentadas e ainda hoje vigem na sociedade.
17- A filosofia aristotélica já expunha a indispensabilidade da ética e o seu valor intrínseco ao próprio humanismo, há 350 anos antes de Cristo. Por outro lado, exercitar a tolerância no convívio é uma arte que exige largueza e espírito de renúncia. Em complemento a isso, é salutar e devem ser incentivadas a luta pelo exercício da cidadania e a busca pela convergência.
18- Esta é uma casa de excelência. Nosso quadro técnico é uma referência nacional e tem a dinâmica do aperfeiçoamento permanente. Não vamos permitir acomodações. Serei rigorosa como de hábito, mas tenho a humildade que a experiência recomenda. Recuso a irresponsabilidade como bússola e o quixotismo como estandarte. Não confundo discordância com ultimato, nem lealdade com subserviência.
19- Lealdade é um valor praticado entre companheiros, mas há uma forma de lealdade que se sobrepõe a todas: como primado, a lealdade a si mesmo; como consequência, à lisura e aos princípios universais. Tenho compromisso com a meritocracia para as ascensões funcionais e isto implica na busca obstinada da ética e da eficiência, na ação direta e na gestão. Novos tempos requerem ousadia e audácia, mas também paciência e espírito conciliatório.
20- Serei accessível e aberta ao diálogo, mas firme e decidida na defesa do interesse público e dos objetivos do Tribunal. Minha gestão buscará encontrar ferramentas jurídicas que garantam o cumprimento das decisões do Pleno do TCE. É importante que o julgamento político feito pelas Câmaras de Vereadores, seja respeitado, conforme determina a Constituição.
21- Entretanto, é fundamental que os vereadores motivem, justifiquem seus votos, revelando as razões que os levam a rejeitar ou aprovar as contas dos chefes do executivo. Para tanto, as Câmaras de Vereadores devem se valer de suas assessorias jurídicas e contábeis. Numa outra linha de ação estratégica, criamos novos instrumentos para que este Tribunal se aproxime mais da sociedade. O povo precisa conhecer a instituição porque os resultados concretos das nossas decisões se refletem na vida da população.
22- No instante em que assumo esta imensa responsabilidade, peço a Deus que ilumine meus caminhos e que me faça ter sempre presente os ensinamentos bíblicos de que “tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças porque no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. Muito obrigada”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário