Colunista de “O Globo” publica versão de Eduardo Campos em defesa do ministro Fernando Bezerra Coelho
Em sua coluna política desta sexta-feira, o colunista de “O Globo”, Merval Pereira, que também é membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu o seguinte:
1- O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, recusa fortemente a
acusação de que as verbas para enchentes recebidas pelo Estado tenham a
ver com uma política fisiológica, ou com o aparelhamento do Ministério
da Integração Nacional, que seu partido, o PSB, ocupa por meio de
Fernando Bezerra.
2- Ele telefona para reafirmar que todas as verbas foram
autorizadas pela presidente Dilma Rousseff, pessoalmente, logo no início
de seu governo, quando uma das regiões mais pobres de Pernambuco foi
atingida pela terceira enchente em dez meses, entre 2010 e 2011.
3- Na descrição do governador, as enchentes transformaram uma
situação “dura e difícil socialmente” daquela região, “uma das mais
pobres de Pernambuco”, em um “quadro de guerra”.
4- Mais de 80 mil pessoas foram atingidas, cerca de 25 mil
ficaram sem moradia, 300 escolas foram destruídas pelas águas, linhas
férreas, transformadas em montes de ferro.
5- Dezesseis cidades ficaram sem água e energia, foi realizado o
maior resgate aéreo de todos os tempos e mil pessoas passaram mais de um
ano vivendo em tendas.
6- Eduardo Campos diz que, se tivesse feito gestões pessoais
junto ao Ministério da Integração Nacional para passar à frente de
outros Estados na obtenção de verbas, “estaria no meu papel de defender o
Estado, e a imprensa, no papel dela de denunciar o privilégio”.
7- Mas ele garante que nada disso aconteceu, e que a decisão
sobre a prioridade para as obras em Pernambuco saiu de uma conversa que
teve com a presidente Dilma.
8- “Lembro perfeitamente da conversa que tivemos ao telefone”,
diz-me o governador, reproduzindo de memória o diálogo com a presidente,
que fora empossada recentemente. A iniciativa de telefonar partiu dela,
depois da terceira enchente:
9- Outra vez, Eduardo — lamentou a presidente, que já lidara com
os problemas das enchentes anteriores quando era chefe da Casa Civil no
governo Lula.
10- O que é preciso fazer? Quanto custa? — perguntou Dilma, de maneira direta.
11- R$ 500 milhões — respondeu o governador.
12- Com a mesma rapidez, a presidente reagiu:
13- É muito dinheiro, não tenho como ajudar. Estou tendo que cortar custos.
14- Foi na época em que o governo anunciou o corte de R$ 50
bilhões no Orçamento para equilibrá-lo. O governador Eduardo Campos fez
uma proposta:
15- cada real que o governo colocar no projeto de prevenção de enchentes, o Estado coloca outro.
16- Como consequência da conversa, o Palácio do Planalto divulgou
uma nota oficial no começo de maio de 2011 anunciando que faria o
projeto de prevenção de enchentes com o governo de Pernambuco.
17- Os estudos foram realizados pelo Instituto de Tecnologia de
Pernambuco, utilizando a memória do que fora feito em Recife, que também
sofreu muito com enchentes.
18- Entre 1966 e 1975, foram construídas quatro barragens, e a última foi concluída no governo de Fernando Henrique Cardoso.
19- Para a região em causa, é preciso construir cinco barragens,
além de casas populares, recomposição das matas ciliares, reconstrução
de pontes.
20- O programa Minha Casa Minha Vida está construindo 16 mil
casas, e o governo de Pernambuco subsidia as moradias para os que ganham
de 0 a 3 salários.
21- Como diz Eduardo Campos, grande parte dos projetos está sendo
financiada com dinheiro “azul e branco”, as cores de Pernambuco.
22- Todo esse quadro indica, para o governador, uma mobilização
para reformas estruturais necessárias à região que tem tudo a ver com a
função do Ministério da Integração Nacional.
23- “As obras são de interesse também de Alagoas, que sempre sofre com as enchentes de Pernambuco”, ressalta.
24- O que para muitos representa um acordo tácito do PSDB com o
PSB com vistas a uma ação eleitoral coordenada em 2014, quando Eduardo
Campos poderia apoiar a candidatura de Aécio Neves à Presidência da
República, ocupando quem sabe a vice na chapa tucana, para o governador
de Pernambuco nada mais é do que o entendimento das políticas públicas
que estão sendo executadas.
25- O governador Teotônio Vilela, do PSDB, apoiou as obras porque
beneficiam também Alagoas. O governador Antonio Anastasia, de Minas,
também não reclamou porque sabe os problemas que Pernambuco enfrenta. E
também Sergio Cabral, do Rio de Janeiro, não acusou Pernambuco de estar
sendo beneficiado por métodos escusos.
26- Isto é, nenhum governador de outros estados também afetados
pelas chuvas, como Minas e Rio de Janeiro, reclamou de um suposto
privilégio de Pernambuco: “O Anastasia não reclamou, o Sergio Cabral não
reclamou, o Teo Vilela apoiou. Eles sabem que não houve privilégios”.
27- Para Eduardo Campos, o que há é muitos problemas e pouco
dinheiro. Na versão do governador, há um histórico de políticas
fisiológicas no Ministério da Integração Nacional que contamina as
decisões técnicas que estão sendo tomadas, mas ele rejeita a pecha de
que esteja aparelhando o Ministério da Integração Nacional sob o comando
de Fernando Bezerra.
28- Esse debate em torno de privilégios para Pernambuco está até
mesmo trazendo dividendos eleitorais para seu governo, pois os eleitores
acham que ele está defendendo os interesses do estado.
29- Ao mesmo tempo, Eduardo Campos teme que as críticas revolvam a
percepção de um sentimento antinordestino que “não serve para o país”.
30- Toda essa crise poderia ter sido evitada, admite Eduardo
Campos, se o Palácio do Planalto tivesse desde o primeiro momento
confirmado que as obras eram necessárias e tinham a autorização da
presidente Dilma.
31- O mal-entendido não quer dizer que o governador, um dos mais
importantes aliados do governo Dilma, tenha razões para mudar de
posição.
32- Mas a compreensão dos tucanos e a possibilidade de que Ciro
Gomes — hoje adversário de Campos dentro do PSB — assuma um papel
importante no governo Dilma só fazem ressaltar as difíceis relações do
PSB com o PT.
É isso aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário