DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Entrevista: “Não há unidade nem no PT, nem na Frente”, afirma senador Humberto Costa


A indefinição do PT quanto à candidatura a prefeito do Recife é preocupação número um do senador Humberto Costa. Apesar de crer que o partido “tem tempo” para viabilizar João da Costa, na prática não nutre tanta esperança. Nesta entrevista, concedida em seu escritório, o líder da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB) desabafou. “Não adianta fazer discurso de que há unidade.”

JORNAL DO COMMERCIO -– O PT municipal se reuniu para tratar da eleição no Recife, planejando conversar com outros partidos da Frente Popular. Como está interagindo com eles?
HUMBERTO COSTA -– Essa foi uma iniciativa positiva, pois achamos que quanto mais rápido o PT tomar sua decisão, mais rapidamente vamos construir a unidade da Frente. Tanto é que nós da CNB sugerimos que em fevereiro tivéssemos a costura interna. Neste momento o ideal é discussão interna. Que o prefeito, coordenador do processo, e a executiva municipal conversem com lideranças, vereadores e zonais para ouvir o que o partido pensa, qual o caminho. A partir do momento que tivermos construído o processo interno, passamos a discussões com outros partidos. Embora nada impeça que, informalmente, aconteça agora.

Mas depois daquela coletiva da CNB muita gente acusou a tendência de rifar o prefeito, é esse o objetivo?
De forma alguma. Se há um grupo dentro do PT do qual o prefeito João da Costa não pode reclamar é a CNB. Nos momentos mais difíceis que ele viveu, inclusive quando ninguém sabia qual ia ser o desfecho da disputa política entre ele e João Paulo, nós o apoiamos. Porque ele era o prefeito do PT, porque apoiamos a gestão do partido. No momento talvez mais crítico, quando ele adoeceu, reafirmamos nosso compromisso, colocamos quadros à disposição, ajudamos a formalizar convites a pessoas que não queriam participar. Demos e damos apoio integral na Câmara dos Vereadores. Dizer que a CNB tem agido de forma que não seja da mais absoluta lealdade é tentativa de promover intrigas. Para nós, João da Costa e João Paulo são importantes. Mas o mais importante é o PT. Então fizemos uma proposta que permita ao PT continuar na prefeitura, tendo a hegemonia da gestão. Não tem de forma nenhuma intuito de puxar tapete de ninguém. Pelo contrário, atribuímos ao prefeito a ideia de ser o coordenador. Agora, isso tem que ser feito logo. Que o PT possa se resolver, sob pena de, quanto mais demorar, outras candidaturas da Frente começarem a se cristalizar. E aí fica difícil refazer a unidade.

Acha que o prefeito está perdendo esse timing?
Não, temos tempo. Não é prazo fatal. Mas, se conseguirmos chegar a um posicionamento no final de fevereiro, estamos num tempo bom. É bom lembrar que a candidatura de João da Costa (em 2008) foi definida em fevereiro. No momento em que retiramos, em 2008, Pedro Eugênio e Maurício Rands da disputa de uma prévia, a candidatura de João da Costa se consolidou. Não estamos mudando em nada o roteiro de 2008.

Veiculou-se que Eduardo Campos entrou no circuito para ir ao ex-presidente Lula e tratar dessa dificuldade do Recife. É Lula que define 2012 na cidade?
O PT tem uma tradição política nunca rompida. Somos um partido que combinou de tomar decisões pela maioria dos filiados. Agora, é óbvio que vamos levar em consideração várias opiniões. A de Lula é fundamental, porque a presença dele na campanha é fundamental. A de Dilma é fundamental. A de Eduardo também. Todos esses segmentos têm peso. João Paulo, como ator político, tem de ser ouvido. Mas em última instância quem toma a decisão é o partido em nível municipal.

Até o momento, quem tem se mostrado a melhor opção para o PT: João Paulo ou João da Costa?
O melhor para o PT do Recife é o que unir o partido e a Frente Popular. E é o que se demonstrar viável eleitoralmente. Temos vários nomes em condição. João Paulo hoje está nas pesquisas, e fui mal compreendido quando falei que ele era imbatível. Não quer dizer que ele não possa perder eleição, todo mundo pode. Mas, do ponto de vista do eleitorado, hoje é o nome mais forte. Não quer dizer que daqui a três meses não possa ser João da Costa ou outro nome qualquer do PT. Mas o que conseguir unir o PT e a Frente e tiver bom desempenho nas pesquisas pode ser o que venhamos a apresentar. Neste momento, em todas as pesquisas em que são simulados candidatos do PT, o prefeito sempre está numa posição muito boa.

Acredita que João da Costa mais errou ou acertou nos últimos três anos?
Essa avaliação é melhor ser feita internamente no PT. Mas acredito que ele deu continuidade a um projeto vitorioso, àquilo que João Paulo começou. Muitas das coisas que acontecem agora foram construídas lá atrás, por João Paulo, pelo próprio João da Costa, por muitos de nós que participamos do governo. Acho que a gestão anda num processo de fortalecimento, é visível que a cidade mudou. É óbvio também que temos dificuldades na gestão administrativa, mas isso está melhorando. E temos dificuldades políticas. Não adianta fazer discurso de que há unidade. Infelizmente, neste momento, o PT não está unido. A Frente Popular não está unida. Mas há tempo de fazer isso, é nossa grande preocupação. Por essa razão, atribuímos ao prefeito João da Costa o papel de coordenador. Para que ele ouça, saiba e possa, no momento adequado, tomar a decisão melhor para o PT. O PT não é partido de um indivíduo, de um projeto pessoal. Isso vale para João Paulo, João da Costa, Humberto Costa, Maurício Rands, todo mundo. A posição que deve ser tomada e que tenho certeza que o prefeito, na hora adequada, exporá, será a que for melhor para o PT.

De que maneira está se empenhando pessoalmente para promover a união do PT e da Frente Popular?
Tenho me empenhado bastante. Um exemplo foi o trabalho para que João Paulo permanecesse no PT. Tivemos várias conversas com ele, reunimos a bancada federal para fazer um apelo, conversei com Gilberto Carvalho, ministro secretário-geral da Presidência, intercedi junto à presidente Dilma para que ela recebesse João Paulo. Pedimos ao presidente Lula para que assim fizesse, conversamos com o governador. Acho que a permanência dele no PT foi uma grande contribuição para a unidade. Em segundo lugar, temos trabalhado para que a prefeitura dê certo. Onde nosso grupo está, na gestão, veste a camisa como ninguém. E contribuo cobrando do partido e do prefeito uma atitude proativa, no sentido de acelerar a resolução das divergências que eventualmente ainda existam.

No Grande Recife se cogitou colocar candidatura de Pedro Eugênio para Ipojuca e de Fernando Ferro para o Cabo. Como está o quadro do PT para essa região?
O PT respaldou esses movimentos, mas foram mais iniciativas dos municípios e das próprias pessoas. Em vários lugares temos alianças com as gestões e vamos discutir com elas essas alternativas. Temos excelente relação com o prefeito Pedro Serafim (PDT) em Ipojuca e com Lula Cabral (PTB) no Cabo.

A respeito das incursões nacionais do governador Eduardo Campos, elas têm incomodado a presidente Dilma, já que ele é cotado para 2014?
Nunca vi a presidente Dilma se queixar disso. O PT também não. Algumas pessoas falam, mas o PT, como partido, entende que é direito de todos os partidos que compõem a base disputarem a hegemonia na sociedade. O PT não se construiu assim? Por que ele acha que os outros não têm esse direito? É natural que o governador e o PSB queiram crescer. E o PT tem força suficiente para participar dessa disputa. Exerce a presidência, tem muitas prefeituras, governos, boas bancadas no Senado e Câmara. Não vejo preocupação com o PSB. Até porque o governador repete que o compromisso dele para 2014 é com Dilma.

Agora circulam informações de bastidores, de pessoas ligadas ao PSB, de que o senhor teria feito críticas políticas a Eduardo Campos num evento no Ceará. Elas existiram?
Vejo aí um interesse claro de tentar me intrigar com o governador. De onde parte, não sei. Vão perder tempo. Desde 2006, na eleição, tivemos aproximação. Fui secretário de enorme lealdade, e ele deu apoio integral à aspiração que tive de ser senador. Não tenho queixas. Acho engraçado é que as pessoas que fazem essas colocações só aparecem em off. No Ceará, fui a um encontro de procuradores da Fazenda, para debater com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) reforma tributária. Ficaria até difícil encontrar espaço para crítica à gestão do governador. Depois, falaram que foi numa reunião da CNB, com 250 testemunhas. Inúmeras foram procuradas pela imprensa para comprovar o que um blog andou dizendo que eu tinha falado (blog de Kleber Cisneiros, de Garanhuns). Não houve declaração de que eu tinha feito crítica maior ao governador. No dia em que ele quiser ouvir minha opinião sobre o governo, poderei fazer, em reserva. Não significa que a gente possa ter convergência em tudo. O importante é que a crítica, quando existir, vai ser com lealdade e no espaço da discussão. Isso para mim é coisa de áulico que quer prestígio, que acha que essa relação minha com o governador pode ameaçar interesses de alguns.

Como sentiu a repercussão do auxílio-moradia retroativo pago a ex-deputados estaduais de 1994 a 1997, já que o senhor está na lista?
Esse é um processo antigo. Na época, quando me associei ao grupo que requereu, foi colocado que a lei previa que 75% de todas as verbas do deputado federal, tanto salários quanto verbas indenizatórias, deveriam corresponder a um deputado estadual. Isso foi para a Justiça, que decidiu que era correto. E não só para a Assembleia. Decidiu para Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, uma série de órgãos. Não é auxílio-moradia. É um recurso que completa os 75% do que o deputado recebia. E mais: se em algum momento a Justiça declarar ilegal, não terei problema em devolver. Nunca me locupletei de recursos públicos. Se quisesse ser rico, não estava fazendo política. Não serão R$ 15 mil ou R$ 16 mil que vão macular minha vida política.

Mas a legislação não diz que a remuneração do deputado estadual tem que ser 75%, isso é um teto.
Mas é o que era aplicado na Assembleia na época. Inclusive corresponde a um período pequeno, só fui deputado estadual de 1991 a 1995, então dá menos de um ano.

Sobre 2012 no Senado, quais as suas prioridades?
Na bancada do PT vamos começar com um problema. Fizemos acordo de que teríamos rodízio na vice-presidência e na presidência das comissões. A vice-presidente Marta (Suplicy, SP) renunciaria e (José) Pimentel (CE) entraria em 2012. Ela tem dado declarações de que o compromisso não foi feito, que pode haver prejuízos para o PT. Temos que enfrentar. Vamos ter a eleição do novo líder do PT no fim do mês, entre Walter Pinheiro e Wellington Dias. E vou reassumir a vice-presidência nacional do PT. Do ponto de vista do Senado propriamente dito, vários temas vão retornar à pauta. Começa com a comissão especial que vai tratar do financiamento da saúde, da qual pretendo fazer parte. Vou trabalhar a proposta da Lei de Responsabilidade Sanitária (LRS). Porque não adianta definir que vai ter mais dinheiro e não dar à população a garantia de que vai ser gasto adequadamente. E a LRS permite isso. Teremos a volta do debate dos royalties do petróleo e do ICMS. E a reforma política, com pouca esperança que avance em 2012. Nossa expectativa é que o Senado saia da lógica que imperou no primeiro ano, que foi muito mais a pauta do governo valer do que a dos próprios parlamentares.

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