Fotos: Juliana Leitão/DP/D.A PresRobson Marques, em Sousa (PB), e Zacarias Nunes, em Juazeiro do Norte (CE): apoio a Lula é proveniente da sensação de que ele deu atenção ao NE
Votação em massa do eleitor nordestino em candidatos apoiados por Lula altera mapa eleitoral e impõe desafio ao PSDB, que precisa desenvolver projeto para a região
Avotação no Nordeste está se distanciando da média nacional. Nas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e 2002, o percentual de votos que o candidato eleito obteve na região foi semelhante ao que recebeu no país como um todo. Mas a partir de 2006 começou uma escalada em que o eleito tem entre os nordestinos uma votação de mais de 15 pontos percentuais acima da que teve no Brasil - uma diferença inédita no quadro eleitoral brasileiro.
Agora em 2010 Dilma Rousseff venceu no Brasil, em segundo turno, com 56% dos votos. No Nordeste seu percentual ficou 14 pontos percentuais acima: 70,5%. No pleito de 2006, quando teve início a tendência, Lula elegeu-se com 60,8% dos votos, mas entre os nordestinos sua votação atingiu 76,8% - 16 pontos percentuais a mais. Trata-se de uma diferença decisiva para o candidato beneficiado e de impacto profundo na política brasileira: no quadro de hoje significa que o PT larga na frente na disputa pela presidência e que a oposição precisa formular um plano para buscar os votos da região.
“Na primeira vitória de Lula ainda havia desconfianças sobre o que seria o seu governo. Mas em seu segundo mandato ele consolidou sua imagem e a eleição de Dilma foi uma opção pela continuidade da gestão dele”, explica o cientista político Marcos Costa Lima. Não há sinal de que a tendência se modifique profundamente para a próxima eleição presidencial e na “refundação” que o PSDB cogita fazer é imprescindível elaborar um plano para o Nordeste, diz Marcos.
O apoio que o Nordeste dá hoje a Lula não tem semelhança com o que a região deu aos candidatos da Arena e PDS durante o regime militar. Naquela época, compara o cientista político, havia censura à imprensa, repressão, ausência de eleição para governador e prefeito de capitais e casuísmos pró-candidatos do regime - e mesmo assim muitas vezes os oposicionistas saíram vitoriosos em diversas eleições na região, como no pleito de 1974.
A esmagadora opção pró-Lula das últimas eleições seria devido ao fato de que a região sente-se, pela primeira vez, alvo prioritário de um governo - sem falar na influência que a figura carismática do presidente tem sobre as populações pobres. Teve peso também o efeito do Bolsa Família, que extinguiu a intermediação dos coronéis na assistência aos pobres.
Ao pender majoritariamente em favor de um lado, o voto do Nordeste desequilibra a balança eleitoral e assume papel decisivo na eleição para presidente. Dilma teve pouco mais de 12 milhões a mais do que José Serra no país; no Nordeste a vantagem foi de 10,7 milhões. Mesmo desconsiderando-se a votação dos nordestinos, Dilma ainda venceria por 1,3 milhão de votos.
Mas este é o raciocínio simples da questão, o aritmético. Há que se considerar o fato de que foi a maioria na região que lhe garantiu uma campanha favorável desde o início - como o primeiro lugar nas pesquisas e tudo o que isso significa. É como se um time começasse o jogo ganhando por 3 x 0. Pode até no final vencer por 5 x 1, quando aqueles três gols iniciais seriam desnecessários, mas começar na frente faz diferença na política e no futebol.
A socióloga Fátima Pacheco Jordão, especialista em pesquisa de opinião e fundadora do Instituto Patrícia Galvão (SP), percebeu com clareza a questão. Primeiro, diz ela, apenas a aritmética do voto não explica a eleição de Dilma; segundo, foi graças ao Nordeste que a sua candidatura ganhou perspectivas de vitória; terceiro, o Nordeste lhe deu o favoritismo que se manteve por toda a campanha. “O peso do Nordeste foi crucial para Dilma”, afirma Fátima. “É uma área estratégica para o futuro tanto do PT quanto da própria Dilma”. E a votação que os nordestinos lhe deram deve influenciá-la “pessoalmente”, considera Fátima Jordão.
Obras federais nos estados
Pernambuco
Transnordestina, Estaleiro, Refinaria e duplicação BRs
Alagoas
Canal do Sertão Alagoano, revitalização do S. Francisco
Bahia
Ampliação refinaria, gasoduto e revitalização do S. Francisco
Ceará
Construção do Metrô de Fortaleza, Transnordestina
Maranhão
Construção de refinaria e usina hidrelétrica
Paraíba
Duplicação da BR-101 e Transposição do S. Francisco
Piauí
Transnordestina liga Eliseu Martins (PI) a portos de PE e CE
Sergipe
Ampliação da Malha Nordeste de Gasoduto
Rio grande do norte
Construção da Refinaria Clara Camarão
Votação no nordeste (%)
* Vitória no primeiro turno
Eleitorado do brasil (por região, %)
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Piauí
Transnordestina liga Eliseu Martins (PI) a portos de PE e CE
Sergipe
Ampliação da Malha Nordeste de Gasoduto
Rio grande do norte
Construção da Refinaria Clara Camarão
Votação no nordeste (%)
Candidatos | Brasil | Nordeste |
1989 (2º turno) | ||
F. Collor Lula | 49,9 44,2 | 55,7 44,3 |
1994 (1º turno) * | ||
FHC Lula | 54,2 27,4 | 57,59 30,29 |
1998 (1º turno) * | ||
FHC Lula | 53,0 31,7 | 47,7 33,6 |
2002 (2º turno) | ||
Lula Serra | 61,2 38,7 | 61,5 38,4 |
2006 (2º turno) | ||
Lula G. Alckmin | 60,8 39,1 | 76,8 22,7 |
2010 (2º turno) | ||
Dilma Roussef Serra | 56 43,9 | 70,5 29,4 |
* Vitória no primeiro turno
Eleitorado do brasil (por região, %)
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