DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O voto do NE cada vez mais decisivo





Fotos: Juliana Leitão/DP/D.A PresRobson Marques, em Sousa (PB), e Zacarias Nunes, em Juazeiro do Norte (CE): apoio a Lula é proveniente da sensação de que ele deu atenção ao NE



Votação em massa do eleitor nordestino em candidatos apoiados por Lula altera mapa eleitoral e impõe desafio ao PSDB, que precisa desenvolver projeto para a região

Avotação no Nordeste está se distanciando da média nacional. Nas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e 2002, o percentual de votos que o candidato eleito obteve na região foi semelhante ao que recebeu no país como um todo. Mas a partir de 2006 começou uma escalada em que o eleito tem entre os nordestinos uma votação de mais de 15 pontos percentuais acima da que teve no Brasil - uma diferença inédita no quadro eleitoral brasileiro.

Agora em 2010 Dilma Rousseff venceu no Brasil, em segundo turno, com 56% dos votos. No Nordeste seu percentual ficou 14 pontos percentuais acima: 70,5%. No pleito de 2006, quando teve início a tendência, Lula elegeu-se com 60,8% dos votos, mas entre os nordestinos sua votação atingiu 76,8% - 16 pontos percentuais a mais. Trata-se de uma diferença decisiva para o candidato beneficiado e de impacto profundo na política brasileira: no quadro de hoje significa que o PT larga na frente na disputa pela presidência e que a oposição precisa formular um plano para buscar os votos da região.

“Na primeira vitória de Lula ainda havia desconfianças sobre o que seria o seu governo. Mas em seu segundo mandato ele consolidou sua imagem e a eleição de Dilma foi uma opção pela continuidade da gestão dele”, explica o cientista político Marcos Costa Lima. Não há sinal de que a tendência se modifique profundamente para a próxima eleição presidencial e na “refundação” que o PSDB cogita fazer é imprescindível elaborar um plano para o Nordeste, diz Marcos.

O apoio que o Nordeste dá hoje a Lula não tem semelhança com o que a região deu aos candidatos da Arena e PDS durante o regime militar. Naquela época, compara o cientista político, havia censura à imprensa, repressão, ausência de eleição para governador e prefeito de capitais e casuísmos pró-candidatos do regime - e mesmo assim muitas vezes os oposicionistas saíram vitoriosos em diversas eleições na região, como no pleito de 1974.

A esmagadora opção pró-Lula das últimas eleições seria devido ao fato de que a região sente-se, pela primeira vez, alvo prioritário de um governo - sem falar na influência que a figura carismática do presidente tem sobre as populações pobres. Teve peso também o efeito do Bolsa Família, que extinguiu a intermediação dos coronéis na assistência aos pobres.
Ao pender majoritariamente em favor de um lado, o voto do Nordeste desequilibra a balança eleitoral e assume papel decisivo na eleição para presidente. Dilma teve pouco mais de 12 milhões a mais do que José Serra no país; no Nordeste a vantagem foi de 10,7 milhões. Mesmo desconsiderando-se a votação dos nordestinos, Dilma ainda venceria por 1,3 milhão de votos.

Mas este é o raciocínio simples da questão, o aritmético. Há que se considerar o fato de que foi a maioria na região que lhe garantiu uma campanha favorável desde o início - como o primeiro lugar nas pesquisas e tudo o que isso significa. É como se um time começasse o jogo ganhando por 3 x 0. Pode até no final vencer por 5 x 1, quando aqueles três gols iniciais seriam desnecessários, mas começar na frente faz diferença na política e no futebol.

A socióloga Fátima Pacheco Jordão, especialista em pesquisa de opinião e fundadora do Instituto Patrícia Galvão (SP), percebeu com clareza a questão. Primeiro, diz ela, apenas a aritmética do voto não explica a eleição de Dilma; segundo, foi graças ao Nordeste que a sua candidatura ganhou perspectivas de vitória; terceiro, o Nordeste lhe deu o favoritismo que se manteve por toda a campanha. “O peso do Nordeste foi crucial para Dilma”, afirma Fátima. “É uma área estratégica para o futuro tanto do PT quanto da própria Dilma”. E a votação que os nordestinos lhe deram deve influenciá-la “pessoalmente”, considera Fátima Jordão.

Obras federais nos estados



Pernambuco
Transnordestina, Estaleiro, Refinaria e duplicação BRs

Alagoas
Canal do Sertão Alagoano, revitalização do S. Francisco

Bahia
Ampliação refinaria, gasoduto e revitalização do S. Francisco

Ceará
Construção do Metrô de Fortaleza, Transnordestina

Maranhão
Construção de refinaria e usina hidrelétrica

Paraíba
Duplicação da BR-101 e Transposição do S. Francisco

Piauí
Transnordestina liga Eliseu Martins (PI) a portos de PE e CE

Sergipe
Ampliação da Malha Nordeste de Gasoduto

Rio grande do norte
Construção da Refinaria Clara Camarão


Votação no nordeste (%)

Candidatos Brasil Nordeste

1989 (2º turno)
F. Collor
Lula
49,9
44,2
55,7
44,3

1994 (1º turno) *
FHC
Lula
54,2
27,4
57,59
30,29

1998 (1º turno) *
FHC
Lula
53,0
31,7
47,7
33,6

2002 (2º turno)
Lula
Serra
61,2
38,7
61,5
38,4

2006 (2º turno)
Lula
G. Alckmin
60,8
39,1
76,8
22,7

2010 (2º turno)
Dilma Roussef
Serra
56
43,9
70,5
29,4

* Vitória no primeiro turno



Eleitorado do brasil (por região, %)

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