DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

30 presidentes e duas verdades incômodas

30 presidentes e duas verdades incômodas


Fotos: Juliana Leitão/DP/D.A Press

Levantamento mostra que região tem mais apoio quando presidente é do Nordeste, Minas Gerais ou Rio Grande do Sul

A primeira verdade é que ao longo de 121 anos de República os projetos mais importantes para o Nordeste só aconteceram após grandes secas e quando havia um nordestino na presidência ou ocupando cargo muito importante no governo federal. O primeiro – e único – autor a perceber isso foi um economista de reputação internacional Albert Hirschman, nos anos 60. Elaborou até uma tabela, comprovando sua tese (veja ao lado), publicada em livro originalmente lançado nos Estados Unidos, em 1963, Journeys toward progress. A gestão do presidente Lula corrobora a tese de Hirschman. A segunda verdade é que nas poucas vezes em que o Nordeste teve atenção prioritária do governo federal, o presidente era nordestino, gaúcho ou mineiro. Nunca de São Paulo. O primeiro foi o paraibano Epitácio Pessoa (1919-1922), que deflagrou uma série de obras na região só comparável a do governo Lula atualmente. Não chegou a concluí-las; seu sucessor, Artur Bernardes, paralisou todas, para equilibrar a economia do país. Os outros presidentes em cujo mandato o Nordeste se saiu bem foram Getúlio Vargas (gaúcho), Juscelino Kubitschek (mineiro), João Goulart (gaúcho) e Lula (pernambucano).

O primeiro nordestino a ser eleito presidente foi Epitácio Pessoa, paraibano de Umbuzeiro. Ele destinou 15% das receitas da União para cá e transformou a região num canteiro de obras: barragens, rodovias, ferrovias e melhoramentos em três portos. Tudo iniciado quase simultaneamente. Por que tão grande impulso para uma região e por que a simultaneidade das obras? Passemos a palavra a Hirschman novamente: “Entre outras, a resposta é a de que, como decorreria muito tempo antes que um outro nordestino retornasse ao Palácio do Catete [sede do governo federal na época], Epitácio estava disposto a dar início ao maior número possível de projetos, e se possível terminá-los, durante o seu mandato”. Hirschman nasceu na Alemanha e naturalizou-se americano. É hoje um escritor consagrado, autor de livros como A retórica da intransigência (1992), obra que durante o governo Fernando Henrique (1995-2002) foi uma espécie de leitura de cabeceira dos tucanos.


O ano em que a região pode alcançar o Brasil



1919-1922
Epitácio Pessoa: 11º presidente. O que mais investiu na região no século 20. Investimentos alcançaram 15% da receita total do país, um nível jamais atingido até hoje


1930-1945/1951-1954
Getúlio Vargas: Criação do BNB, em 1952, marca início de política de desenvolvimento regional para o país. O 1º presidente, Rômulo Almeida, era assessor especial dele. O paraibano José Américo foi ministro das Obras Públicas


1956-1961
JK: Começa um novo ciclo para o Nordeste, que se estende até o governo seguinte, de João Goulart. Surge a Sudene, em 1959, comandada pelo paraibano Celso Furtado, que elaborou a primeira análise teórica da desigualdade regional no Brasil


1961-1964
João Goulart: Período de agitação política e social. Nos EUA, em pronunciamento no dia 14 de julho de 1961, o presidente Kennedy diz: “Nenhuma área tem maior e mais urgente necessidade de atenção que o vasto Nordeste do Brasil”


1964-1985
Regime militar: “O Brasil é uma nação e a proposta do governo é desenvolver todas as regiões, e não apenas esta ou aquela”, diz o ministro Delfim Netto para governadores nordestinos, em 28 de julho de 1970


1985-1990
José Sarney : Constituinte cria fundos para desenvolvimento das regiões. Combater desigualdade regional torna-se princípio constitucional (artigo 3º)


1990-1992
Fernando Collor: Nasceu no Rio. Governou Alagoas antes de eleger-se presidente.Sofreu impeachment


1995-2002
FHC: Fechamento da Sudene em 2001. “Fernando Henrique ignorou o Nordeste”, diz economista Gustavo Maia Gomes, que no governo dele ocupou a diretoria de estudos regionais do Ipea


2003-2010
Lula: Crescimento supera o do Brasil e é marcado por investimentos públicos, empreendimentos privados e distribuição de renda. Houve redução da pobreza e um aumento inédito de consumo


2011-2015
* A conferir nos próximos anos
Esperança de vida ao nascer
(em anos), 2009

Sul 75,2
Sudeste 74,6
C. Oeste 74,3
Norte 72,2
Nordeste 70,4
Brasil 73,1

A média esconde desequilíbrios maiores. Entre os estados, por exemplo, quem nascer em Santa Catarina (75,8) em tese viverá 7 anos a mais do que aqueles que nascerem no Maranhão (68,4)
Fonte: IBGE/Síntese de Indicadores Sociais


Mortalidade infantil
(por mil nascidos vivos)

Sul 15,10
Sudeste 16,60
C. Oeste 17,80
Norte 23,50
Nordeste 33,50

Fonte: IBGE/Síntese de Indicadores Sociais


Ações pró-nordeste

Ano Decisões nordestino ocupando posição influente
no governo
1900 Criação por decreto de fundos especiais de socorro, destinados sobretudo para obras públicas Vice-presidente Rosa e Silva (PE) e ministro da Justiça, Epitácio Pessoa (PB)
1909 Criação da IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas), embrião do DNOCS Francisco Sá (CE), ministro da Viação e Obras no governo Nilo Peçanha
1920-1922 Obras públicas em larga escala Governo de Epitácio Pessoa, o primeiro nordestino a chegar à Presidência
1932-1937 Segundo período de obras públicas em larga escala José Américo de Almeida (PB), ministro das Obras Públicas (até 1934)
1952 Criação do BNB Rômulo Almeida (BA), assessor especial
de Vargas
1959 Criação da Sudene Celso Furtado (PB), criador de política regional para o NE
2002-2010 Obras públicas em larga escala Luiz Inácio Lula da Silva, de Caetés (PE), 29º presidente

Fonte: Até 1959, Albert Hirschman (Política Econômica na América Latina, 1965, Editora Fundo de Cultura)

Nenhum comentário:

Postar um comentário