DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"O NORDESTE DEPOIS DE LULA"

Lula e FHC, a comparação


Fotos: Carlos Teixeira/DP /d.a press

Sertão de Pernambuco: o presidente Lula com populares , em 13 de dezembro passado, e FHC em Petrolina (1997)

Tucano controlou a inflação e montou bases da política social;
Lula fez opção pelo NE.

Durante o governo Lula o Nordeste teve o dobro do crescimento que obteve no governo Fernando Henrique Cardoso. A diferença ainda pode aumentar, porque os dados oficiais disponíveis são apenas dos seis primeiros anos da gestão Lula, de 2003 a 2008. Nesse período o Nordeste cresceu 31,5%, sendo 3,6 pontos percentuais a mais que o Brasil. Já no governo FHC a região cresceu 15,5%, superando o país em apenas 0,4 ponto percentual. Os dados são do IBGE.

Ações nacionais do governo FHC tiveram repercussão favorável no Nordeste, como a estabilização econômica; a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impediu a gastança das prefeituras, e a expansão das políticas sociais. Mas na comparação em relação ao Nordeste os dados lhe são extremamente desfavoráveis. “O governo Fernando Henrique ignorou o Nordeste”, afirma um ex-integrante da gestão dele, o economista Gustavo Maia Gomes (veja entrevista ao lado). O governo dele ficou associado na região à extinção da Sudene, em 2001, medida que, a julgar pelo que aconteceu anos depois, o próprio PSDB desaprovou. O candidato tucano a presidente em 2006, Geraldo Alckmin, prometeu recriar a autarquia, e José Serra, agora em 2010, disse que se eleito acumularia durante seis meses a Presidência da República e a superintendência da Sudene. É consenso que ao sucedê-lo Lula encontrou uma inflação baixa e controlada e as bases da política social montadas, o que facilitou os trabalhos. Mas nada havia, especificamente, em relação ao regional.

Os principais diferenciais do governo Lula para o de FHC, no Nordeste, foram:
1) as obras direcionadas para a região: transposição do São Francisco, Ferrovia Transnordestina, refinarias e siderúrgicas (na gestão de Fernando Henrique não houve nenhuma obra nessas dimensões para a região);

2) ampliação dos recursos para programas sociais. O Bolsa Família é um programa nacional, mas como aqui vivem 50% dos pobres, que são beneficiados, acaba transformando-se em um programa de distribuição regional de renda. O governo FHC tinha programa de transferência de renda, mas os valores eram menores: “O conjunto de bolsas dele somava R$ 2 bilhões, mas no governo Lula isso foi multiplicado por cinco”, diz a economista Tânia Bacelar.

3) no governo Lula o Nordeste liderou percentualmente a criação de emprego formal no país. De 2003 a 2009 cresceu 5,9% ao ano, mais do que o Brasil (5,4%) e o Sudeste (5,2%). O aumento real do salário mínimo também impactou positivamente a região, porque o Nordeste tem metade dos que ganham salário mínimo;

4) a criação de empregos, o aumento do mínimo e o Bolsa Família expandiram o consumo na região. De 2003 a 2009 o Nordeste - juntamente com o Norte - esteve na dianteira das vendas do comércio varejista do Brasil. Com a explosão do consumo vieram os empreendimentos privados, como indústria de alimentação e bebidas (Sadia e Perdigão, em Pernambuco), supermercados e grandes magazines. O crescimento do Nordeste teve a singularidade da distribuição de renda e pela primeira vez na história é sustentado também por obras da iniciativa privada, explica Tânia Bacelar.

5) os investimentos em agricultura familiar aumentaram: os do Pronaf (Programa de Apoio à Agricultura Familiar) são seis vezes maiores no governo Lula do que no de FHC. Outros programas foram criados para a área, como o de Aquisição de Alimentos, que compra diretamente a produção dos agricultores. 50% dos estabelecimentos de agricultura familiar estão no Nordeste.


Principais empreendimentos

Transposição do Rio São Francisco
Vai beneficiar 12 milhões de pessoas, no interior de quatro estados: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Obra de R$ 6 bilhões, iniciada em 2006. Previsão do Ministério da Integração Nacional é que a inauguração da primeira parte, o Eixo Leste, aconteça em junho de 2011, e a segunda, o Eixo Norte, em dezembro de 2012. Quando prontas, previsão é que atenda 390 municípios, ajudando a dinamizar a economia deles

Transnordestina
Obra de R$ 5,4 bilhões. Atinge 81 municípios nos estados de Pernambuco, Piauí e Ceará. Assim como a Transposição, foi iniciada em 2006 e passou igualmente por atrasos em sua execução (causados por exigência de licenciamentos ambientais, desapropriações e liberação de recursos). Já tem 18 lotes em operação e no último dia 13 o presidente Lula assinou contrato para a instalação de outros 10. A mais recente previsão da Transnordestina Logística (TLSA), empresa encarregada da obra, é que sua inauguração aconteça no primeiro semestre de 2012. A ferrovia tem extensão de 1.728 km e liga o município de Eliseu Martins (PI) aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE). Ao longo de sua extensão pode tornar-se um “vetor de desenvolvimento” para municípios da região, conforme avaliação do Ministério da Integração Nacional

Refinarias
Construção de novas no Maranhão, Ceará, Pernambuco. Ampliação da refinaria Clara Camaleão, no Rio Grande do Norte, e da Landulpho Alves, na Bahia

Estaleiro
Em Pernambuco. Já fez o primeiro navio

Siderúrgica
Ceará e Pernambuco

Duplicação da BR-101
Obras iniciais foram em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Trabalhos agora estão sendo ampliados para AL e SE

Investimentos privados
De 2005 até agora cerca de duas mil empresas instalaram-se na região, Segundo a economista Tânia Bacelar, esta é primeira vez na história que um ciclo de crescimento no Nordeste é também “ancorado no investimento da iniciativa privada”. Existem na região 23 polos de desenvolvimento industrial e agrícolas, como o de Suape (PE), onde estão o Estaleiro e a Refinaria Abreu e Lima. Problema é de déficit de trabalhador qualificado.


"FHC ignorou o nordeste"

O economista Gustavo Maia Gomes é autor de um livro já clássico sobre o Nordeste, Velhas secas em novos sertões (Ipea, 2001). Tem doutorado na universidade de Illinois (EUA), é professor da UFPE e comandou a diretoria de estudos regionais do Ipea no governo Fernando Henrique. Sobre o tratamento dado à região ele não tem meias palavras: “O governo Fernando Henrique ignorou o Nordeste. É incontestável que nesse período o Nordeste foi tratado com indiferença”.

A diferença de tratamento da região, nos dois governos, explica a baixa votação que os candidatos do PSDB à presidência tiveram no Nordeste e a grande votação dos candidatos de Lula, entende Gustavo Maia Gomes.

Ele adverte que na comparação entre as duas gestões é preciso levar em conta “a conjuntura internacional favorável”, no governo Lula, e o fato de este ter encontrado uma situação nacionalmente estabilizada. “No governo Fernando Henrique houve necessidade de fazer ajustes, e isso dificulta as coisas”, diz ele, fazendo uma ressalva: “Mas também aí é preciso reconhecer os méritos do governo Lula, porque ele soube aproveitar o ajustamento e a conjuntura internacional favorável. Poderia ter tido tudo isso e não aproveitado, mas ele aproveitou”.



Economista Gustavo Maia. Foto: Cecilia de Sa Pereira/ Esp. DP/ D.A Press



Crescimento acumulado

Crescimento superior ao do Brasil (%)
FHC (1995-2002) Lula (até 2008)

Nordeste: 15,5 31,5
Sudeste:
10,5 27,3
Sul:
19,4 21,2
C.Oeste:
29,3 34,0
Norte:
30,1 39,8
Brasil:
14,9 27,9


Seis cidades concentram
25% do PIB do brasil (%)


De cada R$ 100 reais produzidos no Brasil, R$ 25 são destas seis cidades. São Paulo, a capital, tem uma participação no PIB nacional (11,8%) quase idêntica a da região Nordeste inteira (13,1%). Na parte de baixo da tabela, um dado revelador da concentração: 1313 municípios do resto do país produzem apenas 1% do PIB nacional


1,3 - Manaus
1,4 - BH
1,4 - Curitiba
3,9 - Brasília
5,1 - Rio de Janeiro
11,8 - São Paulo



As cidades mais pobres


O PIB dos cinco municípios, reunidos,
representa cerca de 0,001% do total do Brasil

1ª) Areia de Baraúna (PB) - a
2ª) São Luís do Piauí (PI) - b
3ª) São Félix do Tocantins (TO) - c
4ª) Santo Antônio dos Milagres (PI) - d
5ª) São Miguel da Baixa Grande (PI) - e


Fonte: IBGE/PIB dos municípios 2004-200

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