Administrador do município de Paulista, em Pernambuco, Yves Ribeiro está no sexto mandato, o quinto consecutivo. Em 2012, completa 20 anos no cargo graças à prática de concorrer à prefeitura por diferentes cidades da mesma região metropolitana

ESCOLADO
"Cursei meu ensino básico em Itapissuma; o
fundamental, em Igarassu; e o superior, em Paulista", diz Yves
Ao participar de um seminário em Portugal,
este ano, o prefeito da cidade pernambucana de Paulista, Yves Ribeiro
de Albuquerque (PSB), se surpreendeu com um questionamento realizado por
parte do público: “Como você está há tanto tempo no mesmo cargo?” A
indagação daqueles lusitanos, encarada por ele com estranhamento, parece
bem procedente em terras tupiniquins. Ex-pescador e operário, Yves
Ribeiro, 63 anos, ocupa uma posição de causar inveja a muitos oligarcas.
Está no sexto mandato como prefeito, o quinto consecutivo. Foram três
cidades situadas no mesmo Estado e na mesma região metropolitana. Em
Itapissuma, venceu os pleitos em 1983 e 1992. Como ainda não havia
reeleição, migrou para a vizinha Igarassu, que comandou entre 1997 e
2004. Depois, passou a administrar, em 2005, Paulista, onde exerce seu
segundo mandato. “Tem uns quatro ou cinco municípios da região do
litoral norte de Pernambuco em que eu ganharia as eleições”, diz,
prestes a completar 20 anos no poder.
Apesar de repudiar o título, Yves Ribeiro figura como expoente dos
chamados “prefeitos itinerantes” ou “profissionais”. Homens públicos
que, com o intuito de se preservar no cargo de gestor municipal,
recorrem às urnas vizinhas. “Sempre fui envolvido com as cidades que
governei”, alega. Para justificar ainda mais o seu feito, o
administrador de Paulista menciona uma passagem da Carta Magna: “Todo o
poder emana do povo.” Embora não existam dados oficiais sobre o número
de “prefeitos itinerantes” no País, levantamento de ISTOÉ detectou a
existência desse expediente em quase todos os Estados brasileiros e até
em grandes cidades. O atual administrador da capital catarinense, Dário
Berger (PMDB), por exemplo, foi eleito e reeleito em São José e, ao
final de seu segundo mandato, em 2003, mudou o domicílio eleitoral para
Florianópolis, onde conquistou os pleitos de 2004 e 2008.
A prática, na opinião do advogado Fernando Molino, do Instituto de
Direito Político e Eleitoral, apesar de ser legal, consiste em uma
maneira de burlar a Constituição, que permite apenas uma reeleição em
cargos executivos. “Isso deve ser corrigido. Prejudica a vida política e
administrativa dos municípios”, opina o cientista político Octaciano
Nogueira, professor da Universidade de Brasília (UnB). Yves Ribeiro
discorda: “Qual empresa vê um bom gerente e não quer contratar? Com os
eleitores acontece o mesmo”, explica.
Se depender do Congresso, porém, a caminhada dos prefeitos itinerantes
pode estar com os dias contados. Já foi aprovado no Senado e tramita na
Câmara um projeto de lei que veda a prática. Um dos autores da proposta é
o presidente do Senado, por dois mandatos consecutivos, José Sarney,
que já governou o Maranhão e agora ocupa o cargo de senador pelo Amapá. A
mudança, porém, ainda que sancionada, não afetará a vida do
pernambucano Yves Ribeiro. Mesmo dizendo ter em mãos uma pesquisa em que
lidera as eleições numa quarta cidade da região, o socialista resolveu
abandonar a sanha por prefeituras. “Estou cansado. Já fiz muita coisa”,
diz. “Na escola da política, cursei meu ensino básico em Itapissuma; o
fundamental, em Igarassu; e o superior, em Paulista”, brinca ele.
Formado com louvor na matéria da esperteza política, Yves Ribeiro
pretende se eleger deputado estadual em 2014.


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