DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

DIÁRIO POLÍTICO DE FEIRA NOVA

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Projeto de Humberto evita troca no manuseio de medicamentos e produtos da saúde

A troca no manuseio, compra ou consumo do de um remédio pode ser evitada se os rótulos e embalagens dos produtos apresentarem características que permitem a sua imediata identificação. A confecção de rótulos e embalagens mais adequados é obrigada pelo projeto de lei do senador Humberto Costa (PT/PE), aprovado no Senado Federal no início de março e agora tramitando na Câmara dos Deputados.
O Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 461 poderia evitar equívocos semelhantes ao ocorrido esta semana no Centro de Terapia Intensiva do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, quando uma técnica de enfermagem trocou sedativo por ácido. O erro prejudicou a saúde de uma criança, que ficou com queimadura na boca e em outras partes do corpo. A criança deu entrada no hospital porque tinha batido a cabeça em casa e, portanto, precisava tomar sedativo para fazer exame de tomografia.
Segundo o PLS nº 461, o rótulo dos medicamentos deve ser elaborado de forma a evitar o equívoco na compra, no manuseio ou consumo do medicamento, que pode ser confundido com outras substâncias. O projeto inclui não somente os medicamentos como também cosméticos, insumos farmacêuticos, saneantes e outros produtos de saúde submetidos à Vigilância Sanitária. Nesse sentido, o texto altera a Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, que trata da cobertura da Anvisa.
Além de ter uma embalagem que permita a fácil identificação das características do produto consumido, a lei proíbe o emprego de nomes, designações nos rótulos ou embalagens que induzam o erro. “Entre outras causas, a utilização de rótulos e embalagens iguais ou semelhantes para produtos de composição diferente é fator que induz a equívocos, muitas vezes fatais”, defendeu o senador Humberto Costa, em seu projeto.

Zé Ramos não emplaca em Passira e seu apoio pode ser disputado por outros grupos

Zé Ramos (direita) poderá ser disputado
Sem conseguir emplacar sua pré-candidatura a prefeito do município de Passira e com a saída de importantes lideranças do seu grupo, o empresário José Ramos (PRB) vê cada vez mais longe a sua chance de conseguir ocupar a tão sonhada cadeira de chefe do executivo. Lançado como a terceira via, atualmente, o empresário mostra os menores percentuais de votos nas pesquisas internas. Mas apesar dos contínuos comentários sobre a sua possível desistência, ele ainda não confirmou nada.

Com esse cenário, a expectativa fica para um futuro apoio político de José Ramos a um dos outros dois pré-candidatos: Henrique Queiroz (PP) ou Severino Silvestre (PSDB). A sua parcela de contribuição poderá ser decisiva na corrida pela prefeitura da Terra do Bordado Manual. Mesmo sem oficializar nenhum ato – nas festividades do último final de ano, Ramos prestigiou um evento realizado por Silvestre e mostrou simpatia ao grupo.

Os outros grupos políticos do município ainda não manifestaram publicamente o interesse pelo apoio do representante do PRB, contudo, nos bastidores, comenta-se que contar com o apoio de José Ramos e dos seus seguidores tem sido prioridade nas estratégias de disputa da oposição e da situação. (Imagem Assessoria PRB)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Leia a íntegra da entrevista de Dilma a VEJA


“O exercício da presidência da República é mais trabalhoso do que prazeroso, porque não dá tempo de desfrutar. Só descanso mesmo quando me recolho ao meu quarto para ler. Sem leitura a vida fica mais difícil. Estou lendo o segundo volume de "A Construção Nacional", de José Murilo de Carvalho” (Foto de Cristiano Mariz)

Amigos do blog, as reportagens e entrevistas de VEJA só ficam disponíveis na internet a partir das sextas-feiras da semana em que a revista é publicada.
Devido à importância da entrevista da presidente Dilma Rousseff à revista, porém, antecipamos o texto completo para os leitores do blog que não leram ou não têm o costume de ler a edição impressa.

O BRASIL AOS OLHOS DE DILMA

Em uma entrevista de duas horas a VEJA em Brasília, a presidente Dilma Rousseff diz que o poder não é desfrutável, mas que também não perde o sono com os problemas com os quais se defronta

Aos olhos de muita gente, a presidente Dilma Rousseff deveria estar uma pilha de nervos na semana passada. Ela vinha de uma viagem à Alemanha, onde pareceu, inadequadamente, dar lições de governança à chanceler Angela Merkel.
Na reunião que teria com os maiores empresários brasileiros, ela lhes daria “um puxão de orelha”, e, para completar o quadro recente de tensão, a base aliada do seu governo no Congresso estava em franca rebelião, contrariando seguidas iniciativas do Palácio do Planalto nas votações.
Como pano de fundo da semana caótica, havia o fato de Dilma ainda não ter convencido a opinião pública de ser a grande gestora que o eleitorado escolheu para governar o Brasil em 2010. Como escreve nesta edição J.R. Guzzo, colunista de VEJA, capturando uma sensação mais ampla, “a maior parte das atividades do governo brasileiro hoje em dia poderia ser descrita como ficção”.
Mas Dilma não estava nem um pouco tensa quando recebeu a equipe de VEJA (Eurípedes Alcântara, diretor de Redação, e os redatores-chefes Lauro Jardim, Policarpo Junior e Thaís Oyama) na tarde de quinta-feira passada para uma conversa de duas horas em uma sala contígua a seu gabinete de trabalho no Palácio do Planalto, em Brasília.
Dilma vinha de encerrar a reunião com os empresários, em que, disciplinadamente, cada um dos 28 presentes teve cinco minutos para falar, e não pareceu ter dado — ou levado — metafóricos puxões de orelha. “Tivemos uma conversa séria. Coisa de país que sabe onde está no mundo e aonde quer chegar”, disse ela.
Buzinaço estéril da “guerra cambial”
“Ficamos todos de acordo que os impostos têm de cair, os investimentos privados e estatais têm de aumentar e o que precisar ser feito para elevar a produtividade da economia brasileira e sua competitividade externa será feito.”
Para quem vinha tendo os ouvidos atacados pelo buzinaço estéril da “guerra cambial” contra o Brasil — expressão que, como se verá na entrevista a seguir, ela não acha própria —, a frase de Dilma, mesmo sem a sonoridade do português castiço, soa como música.
É saudável quando o governante não põe em inimigos externos toda a culpa por coisas que não funcionam. Melhor ainda quando reconhece que seu próprio campo, além de não ter soluções para tudo, é também parte do problema.
“Não dá para consertar a máquina administrativa federal de uma vez, sem correr o risco de um colapso. Nem na iniciativa privada isso é possível. No tempo que terei na Presidência vou fazer a minha parte, que é dotar o estado de processos transparentes em que as melhores práticas sejam identificadas, premiadas e adotadas mais amplamente. Esse será meu legado. Nosso compromisso é com a eficiência, a meritocracia e o profissionalismo.”
“Eu disse aos empresários que seremos aliados nas iniciativas para aumentar a taxa de investimento da economia — e não mais apenas o crédito para o consumo”, contou ela. Suas propostas lembram o gato do chinês Deng Xiaoping. Não importa a cor. O que interessa é que ele cace ratos.

Pré-sal e nacionalização de equipamentos

Dilma Rousseff, porém, continua sendo a Dilma da lenda da mulher durona, de coração nacionalista. Confrontada com as críticas de que a Petrobras não pode ser um braço de política industrial do governo, ela reagiu: “A Petrobras tem de saber que o petróleo é do Brasil e não dela”.
Felizmente, Dilma admite que a extração do petróleo do pré-sal tem prioridade até sobre a sacrossanta exigência de 65% na taxa de nacionalização dos equipamentos — o que inviabiliza ou encarece muitas operações. Ela não verbaliza que a taxa pode ser reduzida, mas diz que, entre a manutenção do patamar de nacionalização e a garantia de produção dos campos do pré-sal, fica com a produção.

"O Brasil está em uma situação agora em que podemos dizer aos países ricos que não queremos o dinheiro deles. Eu disse isso com toda a clareza à chanceler Angela Merkel durante minha visita à Alemanha. Aqui se noticiou que eu estava querendo dar lições à Alemanha. Não foi nada disso. Eu quis deixar claro que o Brasil não quer mais ser visto como destinação de capital especulativo ou apenas como mercado consumidor dos produtos que eles exportam" (Foto: Jens Schlueter / AP)
"O Brasil está em uma situação agora em que podemos dizer aos países ricos que não queremos o dinheiro deles. Eu disse isso com toda a clareza à chanceler Angela Merkel durante minha visita à Alemanha. Aqui se noticiou que eu estava querendo dar lições à Alemanha. Não foi nada disso. Eu quis deixar claro que o Brasil não quer mais ser visto como destinação de capital especulativo ou apenas como mercado consumidor dos produtos que eles exportam" (Foto: Jens Schlueter / AP)

Pôr a culpa das reais distorções do Brasil em pressões produzidas no exterior não é uma maneira de fugir dos problemas?
Primeiro, não é verdade que estejamos agindo dessa maneira. É uma simplificação grosseira supor que o governo brasileiro considere as pressões externas a única causa de nossos problemas.
Segundo, ignorar que existem fortes externalidades agindo sobre a economia brasileira é um erro que não podemos cometer, sob pena de arriscar a prosperidade nacional, a saúde de nossa base industrial e os empregos de milhões de brasileiros.
Terceiro, os fatores exógenos são reais e não podem ser subestimados.

A senhora se refere ao que chegou a ser chamado de “guerra cambial”?
Não acho adequado ver o fenômeno do tsunami de liquidez que foi criado pelos países ricos em crise como uma agressão proposital às demais nações. Mas a saída que eles encontraram para enfrentar seus problemas é uma maneira clássica, conhecida, de exportar a crise.
Quando o companheiro Mario Draghi (economista italiano presidente do Banco Central Europeu) diz “vamos botar a maquininha que faz dinheiro para rodar”, ele esta inundando os mercados com dinheiro. E o que fazem os investidores? Ora, eles tomam empréstimos a juros baixíssimos, em alguns casos até negativos, nos países europeus e correm para o Brasil para aproveitar o que os especialistas chamam de arbitragem, que, grosso modo, é a diferença entre as taxas de juros praticadas lá e aqui.
Eles ganham a nossa custa. Então, o Brasil não pode ficar paralisado diante disso. Temos de agir. Temos de agir nos defendendo — o que é algo bastante diferente de protecionismo.

Quais as diferenças entre se defender e recorrer ao protecionismo?
O protecionismo é uma maneira permanente de ver o mundo exterior como hostil, o que leva ao fechamento da economia. Isso não faremos. Já foi tentado no passado  no Brasil com consequências desastrosas para o nosso desenvolvimento.
Cito aqui o caso da reserva de mercado para computadores, que, nos anos 80, atrasou a modernização do parque industrial brasileiro e nos privou de tecnologias essenciais. Não vamos repetir esse erro. Não vamos fechar o país.
Ao contrário, queremos investimentos estrangeiros produtivos. Mas vamos, sim, defender as nossas empresas, os nossos empregos. O que estamos fazendo, e vamos continuar fazendo, é contrabalançar com medidas defensivas as pressões desestabilizadoras externas que estão carreando para o Brasil quantidades excessivas de capital especulativo.
Quando o panorama externo mudar para melhor, nós saberemos que chegou a hora de revogar as barreiras momentâneas que foram criadas.

“Quando o companheiro Mario Draghi (economista italiano presidente do Banco Central Europeu) diz ‘vamos botar a maquininha que faz dinheiro para rodar’, ele está inundando os mercados com dinheiro. O Brasil não pode ficar paralisado diante disso. Temos de agir. Temos de agir nos defendendo — o que é algo bastante diferente de protecionismo” (Foto: Alex Domanki / Reuters)
“Quando o companheiro Mario Draghi (economista italiano presidente do Banco Central Europeu) diz ‘vamos botar a maquininha que faz dinheiro para rodar’, ele está inundando os mercados com dinheiro. O Brasil não pode ficar paralisado diante disso. Temos de agir. Temos de agir nos defendendo — o que é algo bastante diferente de protecionismo” (Foto: Alex Domanki / Reuters)

Mas atrair dinheiro de fora não é bom em qualquer circunstância?
Não.
O Brasil está em uma situação agora em que podemos dizer aos países ricos que não queremos o dinheiro deles. Não queremos pagar os juros de 13% por empréstimos que eles nos oferecem. Obrigada, mas não queremos pagar as exorbitantes taxas de permanência desses empréstimos, quantia que eles cobram mesmo quando não usamos o dinheiro, apenas para que os recursos estejam disponíveis a qualquer momento.
Eu disse isso com toda a clareza a chanceler Angela Merkel durante minha visita à Alemanha. Aqui se noticiou que eu estava querendo dar lições à Alemanha. Não foi nada disso. Eu quis deixar claro que o Brasil não quer mais ser visto como destinação de capital especulativo ou apenas como mercado consumidor dos produtos que eles exportam.
Também deixei bem claro que, quando o Banco Central Europeu joga de repente 1 trilhão de euros no mercado, ele não pode esperar que os países fiquem de braços cruzados enquanto parte desses recursos vem somente passear no Brasil e voltar mais gorda para a Europa sem ter deixado aqui nenhum benefício.

Como Angela Merkel reagiu?
Ela disse que entendia meu ponto de vista perfeitamente, mas que os países emergentes não podiam esquecer que nós temos responsabilidades globais como consumidores ávidos e, portanto, como parte da solução das economias estagnadas da Europa.
Eu, então, respondi que nós devemos ser parceiros no ataque aos problemas globais, mas que nossa colaboração não podia ser mais apenas como mercados consumidores e foco de atração de capitais especulativos.
Disse a ela que o Brasil quer muito atrair empresas alemãs de tecnologia de ponta. Disse que essas empresas são bem-vindas ao Brasil e, uma vez instaladas aqui, com transferência de tecnologia e criação de empregos, serão tratadas como empresas nacionais, com acesso ao crédito e outras facilidades concedidas às empresas nacionais.
As pessoas precisam entender que o Brasil não está recorrendo ao protecionismo, nem arreganhando os dentes para quem quer que seja. Não é disso que se trata. Ainda assim, tem muita coisa errada no Brasil que precisa ser consertada e independe do que vem de fora… Sem dúvida.
Hoje mesmo (quinta-feira passada, 22) eu me reuni com alguns dos maiores empresários brasileiros e tivemos uma troca franca de ideias sobre como atacar nossas distorções mais paralisantes.
Eu disse a eles que nossa maior defesa é aumentar a taxa de investimento privado. Eles reclamaram que os impostos cobrados no Brasil inviabilizam as melhores iniciativas e impedem que eles possam competir em igualdade de condições no mundo. Eu concordo. Temos de baixar nossa carga de impostos. E vamos baixá-la.
Vamos nos defender atacando — ou seja, exportando e ganhando mercados. Para isso, temos de aumentar nossa taxa de investimento real para pelo menos 24%. O governo vai investir e gerar o ambiente de negócios para que isso ocorra. Os empresários terão de fazer a parte deles, aproveitar as oportunidades, assumir riscos e deixar aflorar aquilo que o Keynes chama de “instinto animal” da livre-iniciativa.

“Os empresários reclamaram que os impostos cobrados no Brasil inviabilizam as melhores iniciativas e impedem que eles possam competir em igualdade de condições no mundo. Eu concordo. Temos de baixar nossa carga de impostos. E vamos baixá-la. Temos de aumentar nossa taxa de investimento real para pelo menos 24%” (Foto: Sérgio Lima / FolhaPress)
“Os empresários reclamaram que os impostos cobrados no Brasil inviabilizam as melhores iniciativas e impedem que eles possam competir em igualdade de condições no mundo. Eu concordo. Temos de baixar nossa carga de impostos. E vamos baixá-la. Temos de aumentar nossa taxa de investimento real para pelo menos 24%” (Foto: Sérgio Lima / FolhaPress)
Como diria o Garrincha, é preciso combinar com os russos — e os indianos, e os chineses. Eles já estão atacando os mercados bem antes do que o Brasil, a senhora concorda?
Sim.
Mas a China está dando sinais evidentes de fadiga do modelo focado fortemente na exportação. Tenho acompanhado os debates sobre a China, e seus líderes não escondem que não podem mais negligenciar o mercado consumidor interno.
Eles estão mudando seu foco aceleradamente para atender às demandas do mercado interno chinês. Isso significa que a China em breve vai importar mais do que commodities. Os chineses vão importar bens de consumo — geladeiras, fogões, forno de microondas —, e a parte da indústria brasileira que via a China como ameaça poderá passar a vê-la como oportunidade de mercado também para nossas exportações de manufaturados.
“Os líderes da China não escondem que não podem mais negligenciar o mercado consumidor interno. Eles estão mudando seu foco aceleradamente para atender às demandas do mercado interno chinês. De ameaça, a China pode se tornar oportunidade de mercado também para as exportações brasileiras de manufaturados” (Foto: Ed Jones / AP)
“Os líderes da China não escondem que não podem mais negligenciar o mercado consumidor interno. Eles estão mudando seu foco aceleradamente para atender às demandas do mercado interno chinês. De ameaça, a China pode se tornar oportunidade de mercado também para as exportações brasileiras de manufaturados” (Foto: Ed Jones / AP)

A senhora consumiu boa parte do primeiro ano de seu governo resolvendo crises provocadas por denúncias de corrupção. Agiu com presteza e demitiu quem estava comprometido. É difícil encontrar auxiliares honestos?
A questão não deve ser colocada dessa forma.
Os processos no governo é que precisam ser de tal forma claros e os resultados de avaliação tão lógicos que não sobre espaço para as fraquezas dos indivíduos.
Montesquieu ensinou que as instituições é que devem ser virtuosas. Nenhuma pessoa que é chamada para o governo pode achar que haverá algum tipo de complacência. Nós temos de ser o mais avesso possível aos malfeitos. Não vou transigir.
É bom ficar claro que isso não quer dizer que todos os ministros que deixaram o governo estivessem envolvidos com alguma irregularidade. Alguns pediram para sair para evitar a superexposição ou para se defender das acusações que sofreram.

Por que a senhora não gostou da expressão “faxina ética”?
Parece preconceituoso. Se o presidente fosse um homem, vocês falariam em faxina? Isso é bobagem.
A questão não é essa palavra, a questão é que o governo tem uma obrigação de oferecer serviço público de qualidade à população. E para isso é necessário que os processos no governo sejam eficientes, meritocráticos e transparentes. Eu sempre mudei para tentar melhorar.

Obras de restauração do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro: “O Brasil fará a melhor de todas as Copas do Mundo. Querem apostar quanto comigo?”
Obras de restauração do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro: “O Brasil fará a melhor de todas as Copas do Mundo. Querem apostar quanto comigo?” (Foto: Genílson Araújo / Ag. O Globo)

Essas mudanças, porém, agora estão gerando uma crise no Congresso…
Não há crise nenhuma.
Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e deve ser respeitado. Crise existe quando se perde a legitimidade. Você não tem de ganhar todas. O Parlamento não pode ser visto assim. Em alguma circunstância sempre vai emergir uma posição de consenso do Congresso que não necessariamente será a do Executivo.
Isso faz parte do processo. A tensão é inerente ao presidencialismo de coalizão com base partidária. No governo passado perdemos a votação da CPMF, e o céu não caiu sobre a nossa cabeça.

O que a senhora achou do discurso do ex-presidente Fernando Collor alertando-a de que ele perdeu o cargo por falta de sustentação no Congresso?
Não li o discurso.
Mas vocês souberam do discurso do Miro? (O deputado Miro Teixeira, no dia seguinte ao discurso de Collor, recolocou a questão nos eixos lembrando que não existe comparação possível entre os governos Collor e Dilma.)
O que é preciso ter em mente é que as grandes crises institucionais no Brasil ocorreram não por questiúnculas, pequenas discordâncias entre o Executivo e o Legislativo. As grandes crises institucionais se originaram da perda de legitimidade do governante.
Mas essas derrotas, coincidentemente, começam quando o governo decide trocar suas lideranças no Congresso e rever sua relação com alguns aliados.
Não gosto desse negócio de toma lá, dá cá. Não gosto e não vou deixar que isso aconteça no meu governo. Mas isso nada tem a ver com a troca dos líderes. Eles não saíram por essa razão. Devemos considerar que os parlamentares vivem um momento tenso, natural em um ano de eleições municipais.
Mas repito: não há crise nenhuma.

É difícil suceder na Presidência a um político popular e amado como Lula?
Não. É facílimo.
Para começo de conversa, eu fui ministra da Casa Civil do governo Lula durante cinco anos e despachava com ele dezenas de vezes por dia. Aprendi muito.
Alguns setores menosprezam o Lula por causa de suas origens, mas eu sou testemunha de que ele tem momentos de gênio na política e um carisma que nunca vi em outra pessoa.
Esse metalúrgico que muita gente menospreza mudou o Brasil e ajudou a criar uma nova ordem mundial com o G20, por exemplo, do qual ele foi o grande incentivador.

A senhora tem dificuldade em discordar do ex-presidente Lula?
Nem um pouco.
Nós já divergimos muito no passado e continuamos não concordando em algumas coisas.
Eu tenho uma profunda admiração por ele, uma profunda amizade nos une, ele é uma pessoa divertidíssima, com uma capacidade de afeto descomunal. Mas discordamos, sim. Isso é normal. Mas, no que é essencial, nós sempre concordamos.

Em que momentos a senhora percebe que faz diferença ser uma mulher na Presidência?
Quando eu acordo de manhã e me vejo no espelho.
Estou brincando. Eu acho que a diferença mesmo eu vejo quando as mulheres simples desse Brasil param para conversar comigo, acenam para mim, em quem enxergam um símbolo de emergência e de ascensão. A cada dia eu me convenço de que o século XXI é o século das mulheres.

A senhora se dá o direito de ter uma opinião como mulher sobre determinado assunto, o aborto, por exemplo, e outra como presidente?
De maneira alguma.
Ser presidente não me dá o direito de expressar opinião pessoal, particular ou subjetiva sobre qualquer tema.
Aos 64 anos, tenho de ter a sabedoria de guardar essas opiniões para mim mesma.

“Não há crise nenhuma. Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e deve ser respeitado. Crise existe quando se perde a legitimidade. Você não tem de ganhar todas. O Parlamento não pode ser visto assim. Em alguma circunstância sempre vai emergir uma posição de consenso do Congresso que não necessariamente será a do Executivo”  (Foto: Fábio Pozzembom / ABR)
“Não há crise nenhuma. Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e deve ser respeitado. Crise existe quando se perde a legitimidade. Você não tem de ganhar todas. O Parlamento não pode ser visto assim. Em alguma circunstância sempre vai emergir uma posição de consenso do Congresso que não necessariamente será a do Executivo” (Foto: Fábio Pozzembom / ABR)

O que a senhora descobriu como presidente que não sabia como ministra?
O povo se identifica com você, vê em você uma igual na Presidência.
E, por isso, o brasileiro se entrega, mostra como é caloroso. Ele te identifica na rua, grita seu nome, te abraça, te pega. Você sente que está fazendo aquilo de que ele precisa.
Isso é maravilhoso!

A força (ainda) oculta do PSD do prefeito Gilberto Kassab

Decisões da Justiça sobre tempo de TV e fundo partidário mudarão jogo político nas eleições. Estreante, partido quer estar ao lado dos vencedores

Um mês depois de conseguir o registro na Justiça Eleitoral, em setembro do ano passado, o PSD do prefeito Gilberto Kassab entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com recurso para obter direito a espaço no horário eleitoral de rádio e TV, mas, principalmente, direito ao reparte do fundo partidário. São exatamente essas decisões que podem (e devem) alterar o jogo político das eleições municipais deste ano.  E mexer ainda mais com os ânimos daqueles que trabalham com os olhos voltados para as eleições presidenciais de 2014. 

A expectativa dos advogados do PSD é que até o fim do mês o TSE julgue a ação em que a sigla pede que sua cota seja calculada de acordo com a bancada de 52 deputados. O partido espera conquistar ao menos dois minutos do tempo de propaganda.  "Como foi respeitada a fidelidade partidária e não houve traição dos parlamentares ao eleitor, o PSD deve, sim, ter os mesmos direitos dos mesmos partidos", afirma o advogado do PSD, Admar Gonzaga.
Levantamento feito pelo TSE mostrou que, somando os votos de deputados federais e suplentes, o partido teria conquistado, em 2010, um total de 5,1 milhões de votos. Com base nessa informação, a sigla briga na Justiça para receber cerca de 1,6 milhão de reais por mês do fundo reservado às legendas. De acordo com a legislação eleitoral, 5% dos recursos do fundo partidário são distribuídos a todos os partidos e 95% de forma proporcional ao número de votos da última eleição para a Câmara dos Deputados. 
Por enquanto, no entanto, a Justiça tem levado em consideração que, como foi criado no ano passado e não elegeu bancada federal em 2010, o partido de Kassab não tem direito ao dinheiro do fundo e ao tempo no horário eleitoral. Se essa situação for mantida, o PSD terá direito a apenas 42.524,29 reais do fundo partidário por mês. 
Catorze partidos que perderam deputados para o partido recém-criado  - entre eles o PT, com o qual Kassab chegou a tentar uma aproximação para uma aliança em São Paulo - se manifestaram contra o PSD receber mais dinheiro do fundo. O material foi incluído no processo que está nas mãos do ministro Marcelo Ribeiro, do TSE. 


Derrotas - A legenda sofreu duas severas derrotas na Justiça em fevereiro. No início do mês, o TSE decidiu que o PSD seria tratado como nanico e concedeu à legenda direito a veicular o programa partidário obrigatório de rádio e TV de só cinco minutos neste semestre. O partido pleiteava o mesmo tempo das grandes siglas, de dez minutos de programa partidário, além das inserções de trinta segundos e um minuto semestrais. Os advogados do PSD recorreram. 
No final do mesmo mês de fevereiro, a segunda derrota: o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto negou pedido do PSD sobre a distribuição de cargos na Câmara. O partido, que reivindicava a presidência de ao menos duas comissões permanentes da Casa, recorreu ao STF depois que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), decidiu que ele não tinha os mesmos direitos das demais siglas na divisão dos cargos.
Os advogados do PSD acreditam, porém, que essas derrotas não vão interferir nas próximas decisões da Justiça. Mesmo assim, os líderes do partido já começaram a trabalhar com o "cenário real" e montaram uma estratégia para a eleição de 2012 que não leva em conta uma decisão favorável em relação ao tempo no horário eleitoral. "Temos que trabalhar com o cenário de hoje, não do que teremos no futuro", diz o líder do partido na Câmara, deputado Guilherme Campos. 
Foco nos vereadores -  O estreante PSD não apostará suas fichas em cargos do Executivo. Nesse caso, vale mais ficar ao lado dos vencedores do que propriamente vencer. A não-definição do fundador do partido, Gilberto Kassab, de que o PSD "não é de esquerda, nem de direita, nem de centro" será bastante conveniente nessa tarefa.
A legenda criada pelo prefeito de São Paulo está focada nas alianças para a formação de bancadas municipais. As coligações serão formadas "levando em conta as realidades locais e as forças políticas regionais", diz o vice-governador Guilherme Afif Domingos, um dos fundadores do partido.  O PSD optará por coligações que darão mais tempo de TV à legenda.
Na capital paulista, por exemplo, o PSD já começou a trabalhar para eleger ao menos doze das 55 cadeiras em disputa na Câmara Municipal. E aposta que a aliança com o PSDB é fundamental para esse projeto – mas os tucanos já deram início a um movimento para impedir a aliança proporcional com o partido de Kassab na chapa de vereadores. Atualmente, o PSD tem a segunda maior bancada da Câmara paulistana, atrás apenas do PT, com onze vereadores.
As pretensões de Kassab - Os principais líderes do partido consideram 2012 o ano de preparação da base do PSD e do programa partidário. "Depois de vencer a primeira etapa, conseguir o registro na Justiça Eleitoral, vamos mostrar que não somos artificiais", diz Guilherme Campos. "Por enquanto, vamos mostrar só parte do que é o PSD". 
Até o fim de 2013, o PSD pretende estar consolidado para, em 2014, estar com força e musculatura políticas suficientes para disputar os cargos majoritários. E, como se sabe, nas pretensões de Kassab está a Presidência da República. Seja ele ou não o candidato a comandar a nação.