A presidenciável petista Dilma Rousseff é destaque da reportagem de capa da última edição de Veja. “A verdade sobre os dossiês”, eis o título.
A revista acomoda nos lábios do secretário Nacional de Justiça, Pedro Abramovay, uma frase de teor incômodo:
“Não aguento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês. [...] Eu quase fui preso como um dos aloprados”.
Gilberto Carvalho, que acompanha Dilma na acusação de solicitante de dossiês, é o petista que exerce a função de chefe de gabinete de Lula.
Segundo a revista, Abramovay teria pronunciado o comentário-dinamite numa conversa com o antecessor dele no cargo, Romeu Tuma Jr..
A nova encrenca chega num instante em que Lula e o PT se esforçam para afastar da campanha de Dilma a pecha de produtora de dossiê fiscal anti-José Serra.
- Atualização feita às 13h51 deste sábado (23): A notícia de Veja informa que a revista teve acesso a conversas travadas na pasta da Justiça. Dialogos “gravados legalmente e periciados para afastar a hipótese de manipulação”. O texto não diz quem autorizou, quem executou e quem periciou as gravações. Ouvido sobre a frase em que se queixa dos “pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês”, o secretário Abramovay disse o seguinte: “Nunca recebi pedido algum para fazer dossiês, nunca participei de nenhum suposto grupo de inteligência da campanha da candidata Dilma Rousseff...” Tuma Jr., seu interlocutor na fita, disse à revista coisa muito diferente: “O Pedro reclamou várias vezes que estava preocupado com as missões que recebia do Planalto...” “...Ele me disse que recebia pedidos de Dilma e do Gilberto para levantar coisas contra quem atravessava o caminho do governo”. Filho do senador Romeu Tuma, o ex-secretário Tuma Jr. foi além: "Há um jogo pesado de interesses escusos [no governo]...” “...Para atingir determinados alvos, lança-se mão, inclusive, de métodos ilegais de investigação...” “...Ou você faz o que lhe é pedido sem questionar ou passa a ser perseguido. Foi o que aconteceu comigo". Sem oferecer detalhes, ele diz ter “tudo documentado”. Tuma Jr. deixou a cadeia de secretário Nacional de Justiça depois de ter sido pilhado pela PF numa investigação que envolve a máfia chinesa, em São Paulo. Nessa ocasião, Abramovay, que o sucedeu no cargo, era secretário de Assuntos Legisaltivos do Ministério da Justiça. Segundo Veja, a gravação mais longa que obteve foi feita em janeiro de 2010, no gabinete de Tuma Jr. Coisa de 50 minutos. A certa altura, Tma Jr. e Abramovay discutem a sucessão de Tarso Genro, que se preparava para trocar o ministério pela campanha ao governo gaúcho. Abramovay manifesta o desejo de trabalhar na ONU. Insinua que as pressões do Planalto aumentariam. Por quê? Seria alçado ao cargo de ministro, no lugar de Tarso, o então secretário-executivo da pasta, o funcionário de carreira Luiz Paulo Barreto. Abramovay soa na fita como se duvidasse da capacidade do novo ministro de reagir às pressões: “Isso [o cargo de ministro] é maior que o Luiz Paulo...” “[...] ...Agora eles vão pedir... para mim... pedir para a Polícia (Federal)”. Noutra gravação, o agora ministro Luiz Paulo Barreto revela a desconfiança que nutria pelo diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. Achava que o mandachuva da PF valera-se do aparato do órgão para monitorar autoridades. Supunha que ele próprio houvesse sido bibilhotado por grampos. Pior: achava que o próprio Lula tivesse sido alcançado por escutas ilegais. Em vários momentos, Luiz Paulo queixa-se de não ter ascendência sobre Corrêa. Em dado instante das gravações, o hoje ministro da Justiça diz que o diretor da PF dá-se ao luxo de decidir sobre inquéritos envolvendo pessoas próximas a Lula. Veja reproduz trecho de uma conversa captada em maio, época em que Luiz Paulo jpa estava acomodado na cadeira que herdou de Tarso Genro. O ministro conversa, em sua sala, com a chefe de gabinete, Gláucia de Paula. Fala sobre o possível indiciamento de Gilberto Carvalho, auxiliar de Lula. A voz do chefe de gabinete do presidente da República soara num grampo da Operação Satiagraha. A escuta captara uma conversa de Carvalho com o advogado e ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, à época a serviço de Daniel Dantas. “O Gilberto [Carvalho] foi indiciado?”E, pergunta Gláucia de Paula ao chefe. E Luiz Paulo: “O processo foi travado. Deu m... (...) O negócio do grampo. O Luiz Fernando falou pra não se preocupar”. Gláucia insiste: “Tem certeza disso?”. Luiz Paulo responde: “O ministro Márcio [Thomaz Bastos] que me contou isso. O Gilberto [Carvalho] me contou isso”. Ou seja, tomado por esse diálogo, Luiz Paulo se inteirava sobre o trabalho da PF por terceiros, não pelo diretor-geral da polícia, em tese seu subordinado. Ouvido por Veja, o ministro Luiz Paulo disse que nada comentaria antes de ter acesso ao áudio da gravação.
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